Quatro reportagens históricas

QUANDO A MEMÓRIA É CURTA, O CUSTO DO ERRO É ASSUSTADORAMENTE GRANDE!

FHC mudou o Brasil para pior

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Os pobres não podem esperar nada de um governo com um claro projeto de subordinação ao capital internacional

FOLHA DE S. PAULO domingo, 3 de janeiro de 1999

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JOÃO PEDRO STEDILE

Vivemos na era da mídia e da mistificação. O povo é bombardeado todos os dias pela propaganda do governo, que pinta um Brasil ilusório. Temos dois países: um, o do governo Fernando Henrique, cheio de realizações, desenvolvimento, integração com o mundo, viagens internacionais, "reformas", vantagens sociais e progresso econômico. Outro, o Brasil da realidade em que vive o povo. Se olharmos para trás, o que veremos nesses quatro anos?

l) O governo implantou um modelo econômico que abriu nossa economia irresponsavelmente aos interesses do capital internacional. Pagou os mais altos juros reais do mundo. Enviamos ao exterior mais de US$ 150 bilhões, mas a dívida externa pulou de US$ 120 bilhões para US$ 190 bilhões. A dívida pública interna triplicou e supera US$ 300 bilhões. Tudo sob as promessas de retomada do crescimento, distribuição de renda e aumento do emprego.

Mas qual foi o resultado concreto para a população? O desemprego nunca esteve tão alto. A economia entrou em recessão; fala-se em crescimento só daqui a três anos. A  concentração de renda aumentou, e continuamos sendo o país mais desigual e injusto do planeta.

Todos sabem que a pobreza aumentou no campo e nas periferias das cidades, apesar da falsa propaganda de alta no consumo de frango, iogurte e dentaduras. O salário mínimo continua em R$ 130, um dos mais baixos do mundo.

O governo implementou um processo de privatização vergonhoso, ferindo todos os princípios democráticos. Basta ver o episódio das fitas. Atingiu a nossa soberania, entregando ao capital estrangeiro setores estratégicos da economia, com a desculpa de levantar recursos para pagar a dívida e sanear o Estado. Pura enrolação. Levamos 50 anos construindo a Vale do Rio Doce, com esforço coletivo da sociedade. Foi doada por R$ 3,5 bilhões. Depois, em dois meses —agosto e setembro—, remetemos para o exterior R$ 35 bilhões. Ou seja, dez Vales. E, afinal, o que o povo ganhou com as privatizações?

Na verdade, as privatizações foram e são um assalto legalizado de um setor das elites ao capital estatal, que era da sociedade. Por isso, empresários tes-tas-de-ferro e banqueiros iniciantes se tornaram bilionários rapidamente. Essas mesmas negociatas foram vistas nos casos do Sivam e da famosa pasta cor-de-rosa e em grampos antigos, rapidamente esquecidos pela mídia.

2) Na política, o balanço dos quatro anos também é extremamente negativo. A falta de ética, as negociatas a cada votação importante no Congresso, a convenção do PMDB, as manipulações para garantir a qualquer preço a emenda da reeleição —tudo isso demonstra a 

verdadeira vocação das elites.

As últimas eleições presidenciais, foram, sem dúvida, as mais antidemocráticas de que se tem notícia. A mudança casuística na lei eleitoral e as milionárias contribuições das empresas fizeram delas as mais corruptas da história: um comércio de votos. O uso vergonhoso da mídia a serviço da reeleição e as declarações do presidente do Tribunal Superior Eleitoral sobre a "necessidade" de FHC vencer revelaram o tamanho da desfaçatez dos governantes.

Mas a fachada de governo democrático se manteve incólume na mídia. Todo mundo se esqueceu logo de como a greve dos petroleiros foi massacrada com tanques e baionetas, no melhor estilo das ditaduras latino-americanas. Até hoje, não se resolveu a anistia aos sindicatos que tiveram bens hipotecados pela truculência do governo.

3) Foi no governo FHC que, infelizmente, aconteceram os dois maiores massacres de camponeses: Corumbiara e Carajás, ambos até hoje impunes. Houve outras 150 lideranças rurais 

assassinadas no período. Poucos se lembram das determinações do então ministro da Justiça, íris Rezende, para que as polícias reprimissem de qualquer forma as mobilizações, mesmo em conluio com as milícias de fazendeiros.

4) No setor social, a mesma tática. Na propaganda, pregava-se prioridade aos setores sociais. Na prática, os recursos públicos priorizaram o pagamento de juros e a salvação de bancos e da imagem do governo. Os pobres sabem como está a saúde. A educação é, cada vez mais, privilégio de poucos; seus recursos desaparecem. Na área social temos só um governo de fachada, mentiroso.

5) Os pobres não podem esperar nada de um governo que tem um claro projeto econômico de subordinação ao capital internacional, privatiza o Estado e as leis para benefício de uma minoria, reprime e isola as organizações populares e sindicais. Muito menos a reforma agrária, que é sinônimo de democratização da propriedade da terra e de eliminação da miséria no campo. No governo FHC, aumentaram a concentração da terra e a pobreza rural.

6) Esse governo não tem nenhum compromisso com o povo, os pobres ou a construção de uma nação independente. Esse será o principal desafio da sociedade: organizar-se para enfrentar mais quatro anos de FHC e construir um novo modelo econômico, que distribua renda, elimine as desigualdades sociais e recupere a soberania. Só nesse novo modelo haverá espaço para uma verdadeira reforma agrária.

João Pedro Stedile, 44, economista e especialista em economia agrária, é membro da direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

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Quem é o caloteiro?

 

FOLHA DE S. PAULO quarta-feira, 13 de janeiro de 1999

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CARLOS HEITOR CONY

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Rio de Janeiro — Governo, empresariado, corretores disso e daquilo, a quase totalidade da mídia estão caindo em cima de Itamar Franco, chamando-o de caloteiro. Bolas, a tradição do calote faz parte da liturgia capitalista. Antes mesmo de 1822, data da nossa Independência política, já havia calote. Naquele ano, Portugal e a maioria de seus aliados consideraram o Brasil, além de caloteiro, ingrato.

Eu me pergunto: quem é o maior caloteiro do Brasil atual? Respondo: é o presidente FHC, que não paga a dívida social que prometeu e continua prometendo. Pelo contrario: jogou o Brasil numa miserabilidade que —essa sim— espanta o mundo.

Em seu governo, a distribuição de renda, referência básica para o sucesso de um país como nação, chegou a níveis iguais aos dessas tribos africanas centradas num soba insensível e vaidoso, Caloteiro é o presidente que jurou cumprir e fazer cumprir uma Constituição que ele 

reformou em proveito próprio. 

Compreende-se que uma Carta Magna sofra modificações ditadas pelas circunstâncias, mas nunca em proveito do próprio reformador. Isso sem falar na complicada e até hoje não apurada compra de votos para aprovar o calote na Lei Maior do país.

Caloteiro é quem passa dois terços de sua vida pregando, inclusive aqui mesmo, na Folha, como lembrou outro dia o Clóvis Rossi, um primado de justiça social. E por força desse discurso fez sua carreira política até chegar ao poder. E lá chegando, num calote explícito sem igual, tratou de "arrumar a casa", ou seja, tornar mais dominadora e cruenta uma infra-estrutura colonizada que faz o país regredir ao estagio de simples fornecedor de mão-de-obra barata.

Um dos argumentos brandidos contra o governador mineiro é pueril. A credibilidade do Brasil nunca foi lá essas coisas, nem antes nem agora. Com nossas contas monitoradas pelo FMI e com os juros que pagamos, continuamos a ser uma roleta viciada a favor do jogador.

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O culpado é FHC

FOLHA DE S.PAULO 16 de janeiro de 1999

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FERNANDO RODRIGUES

 

Brasília — A tristeza com a falência do real permite uma elucubração sobre a gênese de tudo isso.

Para começar, a origem da crise não é econômica. É política. E a responsabilidade não é dos técnicos econômicos, mas do chefe deles todos, Fernando Henrique Cardoso.

Ao tomar posse em janeiro de 95, FHC conhecia os problemas estruturais do país.

Poderoso no início do mandato, FHC tinha duas opções Incentivar reformas políticas e ergonômicas para que a estrutura institucional do país suportasse o real no médio e longo prazo ou batalhar pela reeleição. Batalhou pela reeleição.

FHC e seus acólitos passaram a divulgar uma teoria —"não existe ninguém tão preparado para ser presidente". Em seguida, prosperou a tese do "ou FHC ou o caos".

A emenda da reeleição teve de ser aprovada a um custo altíssimo, com o escândalo da compra de votos, em 97. Foi um caminho sem volta. FHC ficou obrigado a se reeleger. Caso contrário, 

abriria uma crise. Só que a economia já estava indo para o brejo.

Governadores gastaram à vontade. FHC fingiu ser contra. Na pratica, nada fez. Em troca, conseguiu alijar Itamar Franco e Paulo Maluf da disputa presidencial. Cooptou o PTB, que, com seus preciosos quatro minutos diários na propaganda eleitoral, ameaçava se bandear para Ciro Gomes.

FHC torrou seu capital político para poder disputar a Presidência quase como um candidato único. Assim foi seu primeiro mandato: prioridade total para reeleger o único (sic) que poderia manterá estabilidade econômica.

Agora, manda amigos dizerem à imprensa que está cansado. Vai veranear na praia ou na fazenda.

Poderia ter feito um esplêndido mandato de quatro anos. Sairia do cargo como o presidente que reestruturou a economia e a política. Cometeu um erro: teve o olho político maior do que a barriga da realidade. Pode se arrepender disso agora.

A julgar pelo seu ânimo, talvez já tenha se arrependido. Azar do Brasil, pois faltam três anos e 11 meses para seu segundo mandato terminar.

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FHC quebrou o Brasil

FOLHA DE S. PAULO 24de janeiro de 1999

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CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro — O governo espalhafatoso e vazio de FHC quebrou o Brasil. Essa é a realidade que ficou escancarada nos primeiros dias de seu secundo e desonesto mandato. Digo e insisto no adjetivo "desonesto" porque o segundo mandato foi arrancado em proveito próprio e com uso de recursos suspeitos.

A quebradeira produziu tantos cacos que fica difícil saber qual deles é mais doloroso. Talvez seja o desemprego, pela instantaneidade da causa e do efeito —que é a crescente miséria de milhões de brasileiros.

O mais revoltante, contudo, continua sendo a conformada burrice do governo que não tem mais o que esconder em matéria de mentiras e. desorientação. Essa corrida da equipe econômica ao FMI, para antecipar alguns milhões, não foi para salvar o Brasil e sim para pagar juros.

Lá fora emprestam periodicamente um pouco de dinheiro desde que seja para FHC acertar os juros com os especuladores. Esse dinheiro não bota um leito num hospital, uma carteira numa sala de aula, não lapa um buraco em nossas estradas, não cria um emprego de gari.

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro — O governo espalhafatoso e vazio de FHC quebrou o Brasil. Essa é a realidade que ficou escancarada nos primeiros dias de seu secundo e desonesto mandato. Digo e insisto no adjetivo "desonesto" porque o segundo mandato foi arrancado em proveito próprio e com uso de recursos suspeitos.

A quebradeira produziu tantos cacos que fica difícil saber qual deles é mais doloroso. Talvez seja o desemprego, pela instantaneidade da causa e do efeito —que é a crescente miséria de milhões de brasileiros.

O mais revoltante, contudo, continua sendo a conformada burrice do governo que não tem mais o que esconder em matéria de mentiras e. desorientação. Essa corrida da equipe econômica ao FMI, para antecipar alguns milhões, não foi para salvar o Brasil e sim para pagar juros.

Lá fora emprestam periodicamente um pouco de dinheiro desde que seja para FHC acertar os juros com os especuladores. Esse dinheiro não bota um leito num hospital, uma carteira numa sala de aula, não lapa um buraco em nossas estradas, não cria um emprego de gari.

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Depois disso, o sonho da dolarização!

Foto do dólar: Folha de São Paulo, 21 de fevereiro de 1999

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Sonhar? É um direito de todos, pois não é sempre que dá certo!!!
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Diário Popular, 08 de abril de 1999

Fiel Transcrição:

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Cardoso é o pior presidente

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No caderno de Esportes do DIÁRIO POPULAR, mais especificamente na seção Terceiro Tempo, do Milton Neves, há sempre uma entrevista com uma personalidade. Entre as perguntas, consta o melhor e pior presidente que o Brasil já teve, e o Collor é citado como pior. Hoje em dia, acredito que muitos também gostariam de eleger Fernando Henrique Cardoso como o pior presidente. Senão vejamos: o Brasil está sendo "vendido" aos estrangeiros;

está acabando com a indústria nacional, gerando tamanho desemprego; o salário mínimo é um salário de fome; o aposentado morre à míngua, pois o que recebe mal dá para comprar os remédios. Tudo isso sem falar em saúde e educação. Niles Spanghero Capital

IMPORTANTE: Visite também o Site www.gs1.com.br