Folha de São Paulo, 16 de Agosto de 1993

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POLÍCIA

PF acusada de dar proteção ilegal a Leopoldo Collor

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Tratamento VIP

Leopoldo: segundo advogado, irmão mais velho de Collor tinha um esquema de segurança especial

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Dossiê afirma que agentes federais chegaram a escoltar PC Farias pelo menos duas vezes

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FAUSTO MACEDO

O ministro da Justiça, Maurício Corrêa, poderá determinar esta semana abertura inquérito para apurar irregularidades na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. A PF de São Paulo é acusada de ter mantido, entre 1990 a 1992, um esquema exclusivo de segurança para o empresário Leopoldo Collor de Mello, irmão mais velho do ex-presidente Fernando Collor.

A denúncia foi feita pelo advogado tributarista Nelcy Nazzari. Num dossiê de quase 200 páginas, ele afirma que os agentes federais, a pedido de Leopoldo, chegaram a escoltar em duas ocasiões até o Aeroporto de Congonhas o empresário Paulo César Farias, o PC, ex-caixa da campanha presidencial de Collor e hoje com prisão preventiva decretada pela Justiça Federal. Segundo o advogado, essa segurança só foi desativada, às vésperas do impeachment do ex-presidente.

Desvio de finalidade — "Os serviços abrangiam desde segurança pessoal até compra de sanduíches na padaria", relata Nazzari na representação ao ministro.

"Trata-se de um gritante desvio de finalidade na PF de São Paulo, pois não se tem conhecimento de lei que ampare esse tipo de procedimento." O superintendente da PP, na época, era o delegado Marco Antônio Veronezzi — que alega ter recebido "ordens superiores" para proteger Leopoldo. O Estado obteve dados que confirmam o deslocamento de pelo menos seis agentes da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) para cumprir o papel de guarda-costas do irmão de Collor. Os policiais tiveram de abandonar suas  funções na PF para acompanhar Leopoldo 

dia e noite, armados com pistolas automáticas e metralhadoras. Faziam uso de carros oficiais da PF e particulares. "Leopoldo exigia que a escolta usasse viaturas ostensivas e pessoal de metralhadora", confirma Francisco Garisto, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais. "Depois que estourou o escândalo envolvendo o presidente, ele passou a pedir segurança com carro 'frio'."

Dispensa — Ainda segundo Garisto, o empresário decidiu dispensar a escolta quando os federais começaram "a fotografar e anotar nomes de pessoas que frequentavam seu escritório, na Rua da Consolação". O tributarista Nazzari solicita a Corrêa a apuração das circunstâncias em que foram cedidos policiais para prestar serviços à família de Leopoldo. A investigação deverá apontar os gastos com a guarda pessoal, incluindo o total de horas trabalhadas pelos agentes, quantidade de carros da corporação utilizados, verba empenhada em alimentação, manutenção dos veículos e combustível.

Nazzari sugere encaminhamento do caso à Procuradoria-Geral da República para abertura de Inquérito civil e "ressarcimento dos danos causados aos cofres públicos". O presidente do Sindicato dos Federais em São Paulo, Lauro Trapp, que integrou a escolta de Leopoldo durante quase seis meses, revelou detalhes do serviço prestado pela PF à época. "A gente começava às 8 da manhã e o acompanhava até quando ele ia para casa, muitas vezes de madrugada", lembrou Trapp. Segundo ele, a direção-geral da PF e o Ministério da Justiça nunca explicaram de quem partiu a ordem para formar o pelotão de escolta de Leopoldo.

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