Folha de São Paulo: 09 de Julho de 1998

Transcrição

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Ministério da Justiça afasta 24 policias

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CRISE FEDERAL: Quatro perdem cargos na cúpula do órgão e pedem licença em conjunto; vice da PF pode ser atingido.
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ABNOR GONDIM

da Sucursal de Brasília

O ministro Renan Calheiros (Justiça) anunciou o afastamento de 24 policiais federais acusados em processos disciplinares ou judiciais. Quatro eram da cúpula da PP e perderam cargos de confiança, sete serão demitidos e 13 respondem a processos disciplinares.

Pelo menos outros 33 policiais respondem a processos disciplinares e deverão ser afastados também. A ampliação do afastamento poderá atingir o vice-diretor da PF, Wantuir Jacine, que teve o sigilo bancário quebrado em um inquérito sobre bicheiros do Rio.

Calheiros adotou uma solução negociada para os quatro policiais de cargos de confiança acusados de desviar recursos de convénio de US$ 296 mil entre o INSS e a PF para a criação de uma delegacia de crimes previdenciários no Rio.

Ele disse que aceitou pedidos de licença apresentados pelos envolvidos. São eles: os ex-superintendentes Mauro Spósito (Amazonas) e Jairo Kullmann (Rio), o delegado Alberto Lasserre Filho, ex-chefe de
gabinete do diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, e o agente Celso Luiz Braga de Lemos, ex-assessor de Chelotti.

"Se eles não pedissem licença, eu iria exonerá-los para que respondessem ao processo sobre o convénio do INSS", disse. O ministro reafirmou que o diretor-geral da PF continuará no cargo.

A operação "limpeza" na PF foi proposta há um mês pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, por causa de ameaças de morte feitas a duas procuradoras que investigavam policiais federais no Rio e em São Paulo. Uma trabalhava com o delegado Alcioni Santana, assassinado em maio.

Serão afastados para responder a processos disciplinares quatro policiais de São Paulo, oito do Rio e um do Paraná. Dois obtiveram liminares para suspender o processo disciplinar até o fim do penal.

A "limpeza" acelerou a conclusão de sete processos que estavam pendentes de decisão há um ano na consultoria do Ministério da Justiça. Renan encaminhou esses pedidos de demissão ao presidente Fernando Henrique Cardoso.

Entre eles está o caso do delegado Eleutério Parracho, ex-superintendente da PF no Rio, além de cinco agentes e do funcionário administrativo Joel Machado. Três pedidos de demissão ainda aguardam decisão final no ministério.

Calheiros disse que irá também rever os processos de demissão arquivados no próprio ministério, como o ex-superintendente da PF no Rio Edson Antônio Oliveira.

Spósito disse à Folha que usou recursos do convénio do INSS para atender emergências em Rondônia e em Alagoas e não colocou documento falso na prestação de contas. Léo Miranda, advogado de Lasserre, disse que o processo tramita sob segredo de Justiça. O agente Celso Lemos e o delegado Oliveira não foram localizados.

Delegado se diz "boi de piranha"

LUIZ MAKLOUF CARVALHO

da Reportagem Local

Afastado do cargo pelo ministro da Justiça, o delegado da Polícia Federal Carlos Leonel da Silva Cruz, 48, preso desde 28 de maio, disse que está sendo "o boi de piranha na perseguição que a Procuradoria da República está movendo contra a Polícia Federal".

Cruz foi condenado, em primeira instância, por crime de concussão (exigir vantagem indevida em razão da função; artigo 316 do Código Penal, pena de dois a oito anos).

Ele está respondendo processo recente sobre o mesmo crime e, também, a duas sindicâncias internas na PF por problemas disciplinares.

O delegado está no presídio da Polícia Civil, na condição de preso especial. O motivo formal da prisão é a acusação de tentativa de concussão contra um empresário —o que nega.

O motivo real, segundo ele próprio, é a morte do delegado da PF Alcioni Santana, em 28 de maio. "Tenho certeza de que fui preso por causa da morte do Alcioni", disse Cruz à Folha. "O inquérito por extorsão foi só um pretexto."

Santana, delegado corregedor, foi um dos que conduziram as investigações sobre o crime de concussão a que responde Cruz, remetendo as conclusões ao Ministério Público, que ofereceu denúncia criminal. "Não matei e não sei quem mandou matar", disse Cruz. "O Alcioni era meu amigo pessoal, ao ponto de ser o padrinho de batismo do meu filho mais novo." O batismo foi em dezembro de 96.

Segundo Cruz, o relacionamento entre os dois envolvia visitas às respectivas residências, cada qual com sua esposa. "Tínhamos uma ótima relação", disse.

Cruz separou-se da segunda mulher no ano passado. "Aí a coisa esfriou um pouco, mas continuamos amigos", afirmou. Segundo ele, o último contato com Alcioni foi na véspera da morte, em um elevador do prédio da Polícia Federal.

"Falamos sobre futebol", disse o delegado afastado. "Mesmo sabendo que ele tinha autorizado o caso da extorsão, nunca falei com ele sobre isso." A Folha apurou junto à PF de São Paulo que Cruz e Alcioni não eram mais amigos.

O delegado afastado confirmou a realização de 19 sindicâncias internas contra ele nos 22 anos em que está na PF —incluindo a que resultou na condenação por concussão. "Nada ficou provado", afirmou. "As outras foram por problemas disciplinares."

Ele foi suspenso da função algumas vezes (não lembra quantas), mas acha isso "normal". "Eu sou um homem de ação e não um funcionário público da Polícia Federal."

"O que existe é uma campanha de perseguição contra mim", disse. Argumenta, em relação ao caso Alcioni, que "ele tornou-se informante da Procuradoria da República, mantendo relação estreita com alguns procuradores".

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