Uma gaiola saiu à procura de um gato ou: Quando os ratos pedem para serem livres dentro da gaiola
Uma gaiola saiu à procura de um gato.
(ou: Quando os ratos pedem para serem livres dentro da gaiola)
Na situação em que a verdade é um momento do que é falso, o ficcional toma o lugar do real.
Aí então os ratos presos na gaiola pedem para que os gatos só cacem (matem, torturem, prendam) os ratos que estão fora da gaiola.
Os ratos — se achando muito rebeldes — querem ser livres dentro das sua prisão.
Os ratos não entendem que é impossível ser livre cercado por muros.
Os ratos não percebem que estão sendo cultivados pelos gatos.
Os gatos convenceram os ratos de que eles são especiais dentro da gaiola.
Os ratos se acham até revolucionários quando pedem para que seja conservada a sua gaiola sem gatos não percebendo que pedem para serem conservados presos, sem percebem que quando pedem para conservar estão sendo conservadores.
Os ratos — tão ocupados em correr na roda que há dentro da gaiola — se esquecem que há uma academia de gatos bem na entrada da gaiola.
Os ratos não percebem que a grande parte dos conhecimentos que adquirem dentro da gaiola é para que sejam competentes ao justificar a ação dos gatos.
O sonho de muitos desses ratos é um dia ser gatos. Então os ratos elegem representantes e fazem assembleias seguindo todo o modelo usado pelos gatos.
E então os representantes dos ratos sentam-se na mesa de negociação dos gatos, e dão entrevistas à tv dos gatos manifestando sua indignação por estarem sendo molestados dentro da gaiola feita e mantida pelos gatos. Os ratos indignados alegam que foi combinado com os gatos que eles teriam autonomia dentro dos muros…ops…digo: da gaiola.
Mas alguns ratos não gostam da gaiola, preferem a cidade. E na contramão da miséria do movimento estudantil dos ratos eles lançam a pergunta:
Porque então não prendemos os gatos dentro da gaiola?
[autoria do texto é o contexto, é a situação que vivemos]
Como montar uma Radio Livre — Rádio Tarrafa
Nossos amigos e amigas da Rádio Livre Tarrafa, lá de Florianópolis (Santa Catarina), produziram tempos atrás esse belo, informativo e importante vídeo sobre o processo coletivo de se montar uma rádio livre. Vale, e muito, a pena conferir o material que agora re-publicamos (já que retiramos esse vídeo do site do Passa Palavra).
Força para todas as Rádios Livres do mundo inteiro!
Rádio Livre derruba avião?
Tempos atrás re-publicamos aqui o artigo Por que calar as Rádios Livres?, de autoria do Coletivo Passa Palavra. Como dica boa nunca é demais, fica aqui nossa sugestão para que vocês leiam (ou re-leiam) essa importante reflexão.
Naquela ocasião, entretanto, esquecemos de publicar um box que estava no final do artigo e que, de forma simples e didática, desmistificava esse papo de que as rádios livres e comunitárias atrapalham os vôos e podem chegar ao ponto de provocarem acidentes aéreos. Assim, para reparar esse nosso lapso de memória, e também levantar novamente esse importante debate, publicamos o trecho que faltava.
Porque aqui é assim: na Rádio Várzea a gente sabe quem trama e quem tá com a gente…
Rádio Livre derruba avião?
Conforme um acordo internacional (RECOMMENDATION ITU-R IS. 1009-1), que a Anatel acolheu e adaptou através da norma 03/95, a comunicação aeronáutica opera na seguinte faixa de freqüência do espectro eletromagnético: de 108 MHz a 137 MHz. Sempre dentro desta freqüência, a comunicação aeronáutica fica, então, divida em 3 sistemas:
- ILS (Instrument Landing System Localizer): guia as aeronaves em procedimento de aproximação e aterrissagem;
- VOR-VHF (Omnidirectional radio range): conhecido também como radiofarol, fornece dados sobre a Radial da aeronave relativamente a algum ponto terrestre de localização conhecido;
- COM-VHF (Communications equipment): possibilita a comunicação de voz entre a tripulação da aeronave e os controladores de vôo.
Os transmissores de radiodifusão FM, de fato, têm o potencial de emitir sinais que coincidam com a faixa aeronáutica; o que constitui um grupo de problemas. Isto, porém, não significa que efetivamente o façam, pois o efeito só ocorre em situações de má consistência técnica, algo raro nos transmissores fabricados hoje em dia, e teoricamente inexistente em transmissores homologados pela Anatel.
Manifesto da Rádio Várzea Livre
QUEM COMUNICA SE ESTRUMBICA!
Por qualquer que seja o meio ou maneira, comunicar é inerente ao ser humano. Lutamos pela nossa liberdade de expressão como se tentássemos escapar de leões famintos. E embora este seja um direito nosso, assegurado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, os leões seguem impunemente tocando o terror. São eles, os donos do poder, monopolizadores da mídia, latifundiários do ar, políticos, padres e pastores, cínicos de toda espécie. E nós somos apenas criaturas alegres e indesejáveis ocupando os meios, movendo-nos.
É verdade que a parafernália tecnológica das grandes emissoras de TV, rádio, jornais e mega portais da internet não comunica. Para nós, comunicar implica o diálogo horizontal entre as pessoas. A troca de experiências e de conhecimento é o que move o ideal de uma comunicação livre, onde debates e manifestações ignorados pela grande mídia encontram o seu canal de transmissão. A profusão de informações que se acumulam a partir de um único emissor tem lógica irracional, monocultural, servindo apenas ao controle capitalista das massas e à desinformação do povo.
Negamos as relações hierárquicas nos meios de comunicação livre. Não há editor chefe ou patrão que dite o conteúdo a ser veiculado. Rejeitamos a verticalidade nas decisões do coletivo, nossa prática é autogestionária, nossa rádio é livre e, principalmente, nosso microfone é aberto a qualquer um que queira fazer o seu programa, irradiar, tomar a palavra.
Não temos fins comerciais, partidários ou religiosos. Não aceitamos jabá, patrocínio ou financiamento. Não somos o fim, somos o meio.
Procuramos criar condições para uma experiência de atuação direta. A ideia é “produzir recebendo” e “receber produzindo”, uma via de mão dupla, onde somos ao mesmo tempo programadores e ouvintes, emissores-receptores. Não aceitamos a dominação cultural que nos querem impor os meios comunicação comerciais. Fizemos florescer um canal livre no espectro eletromagnético! A rádio está pronta para a apropriação das pessoas comuns, para realização de seus desejos, suas utopias.
Para quem se coloca politicamente diante da sociedade, a comunicação livre se realiza como uma atividade anticapitalista, pois nega o modo de produção e manutenção das relações sociais no sistema. A rádio livre subverte essa lógica e prova que outro modelo é possível, é urgente. Faça você mesmo ou morra!