O Estado de São Paulo: 23 de Outubro
de 1992
Fiel Transcrição:
CASO
VASP
Rocha
Mattos é investigado por corrupção
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Juiz
que anulou indiciamento de Quêrcia é acusado de pedir US$ 2 milhões por uma sentença. |
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LUÍZ MAKLOUF CARVALHO
A Corregedoria
do
Tribunal Regional Federal (TRF) está investigando, sob sigilo a denúncia de que o juiz
federal João Carlos da Rocha Mattos, da 4a Vara Criminal, tentou vender uma sentença de
absolvição por US$ 2 milhões. A denúncia uma
representação foi feita no ano passado pelo advogado criminalista Paulo José da
Costa Júnior. Rocha Mattos é o juiz responsável
por dois processos evolvendo o ex-governador de São Paulo, Orestes Quêrcia. Ele assinou
as duas sentenças que evitaram o indiciamento do presidente do PMDB por envolvimento em
irregularidades na privatização da VASP e no super-faturamento na importação de
equipamentos de Israel, comprados pelo governo paulista.
Na representação, Costa diz que foi
procurado por um advogado, em nome de Rocha Mattos, com a proposta de pagar US$ 2 milhões
em troca da absolvição de seu cliente, o italiano |
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Renato
Filippini, acusado por tráfico
de cocaína. O juiz não quis comentar: "Não posso falar sobre isso, porque está sob
sigilo." Investigação
A representação de Costa foi protocolada na Corregedoria o órgão interno
que avalia a conduta dos juízes sob o n° 129/91/CG e está em fase de tomada de
depoimento das testemunhas, sob o comando do juiz-corregedor Américo Lacombe.
A seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) indicou
o advogado Márcio Thomaz Bastos para acompanhar a investigação.
Costa arrolou como testemunhas os advogados Miguel
Reale Júnior, Saulo Ramos e José Roberto Batocchio, presidente da OAB-SP. Eles já
haviam sido convocados, mas faltaram à audiência. A próxima está marcada para 4 de
fevereiro. Ontem, a chefe de gabinete de Lacombe
disse que ele estava em audiência e que o processo administrativo era sigiloso. Mas disse
que Rocha Mattos já foi ouvido. |
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Segunda parte:
O processo que deu origem à acusação
do advogado foi resultado do inquérito sobre a apreensão de 500 quilos de cocaína pura,
pela Polícia Federal, no dia 2 de novembro do ano passado. Filippini
foi preso em flagrante com três outros estrangeiros. O caso ficou famoso porque os
pacotes de cocaína tinham o desenho dos Irmãos Metralha, personagens de Walt
Disney. Mattos condenou os quatro. Costa
recorreu ao TRF, que anulou a sentença por unanimidade, mandando refazer os atos
processuais, mas manteve a prisão dos acusados. Costa recorreu ao Supremo Tribunal
Federal (STF) e conseguiu colocá-los em liberdade. "Eu só
aceitei a causa por ter certeza da inocência do meu cliente", disse ele,
acrescentando que Filippini está em São Paulo, à disposição da Justiça. O
processo foi retomado e está em andamento na 4a Vara, sob a responsabilidade do juiz
Nelson Bernardes.
Promoção Mattos chegou a ser indicado para
uma vaga no TRF (a segunda instância da Justiça Federal), mas foi recusado em 15 |
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de maio
deste ano. Dos 16 juízes presentes à sessão(o TRF tem 17), apenas um foi favorável
à escolha de seu nome. A votação foi secreta. Inconformado,
Mattos recorreu da decisão com mandado de segurança ao STF, ainda não julgado. O TRF
escolheu, por unanimidade, o juiz Sinval Antunes de Souza. "Eu
não me conformo com isso", disse Mattos. Ele acredita que algumas acusações, ainda
não provadas, como a de ter imóveis em Miami, podem ser responsáveis pela
decisão. Também se comenta desfavoravelmente sobre a coincidência de vários processos
envolvendo Quêrcia terem ido parar na 4a Vara.
"Não entendo nada de computação, não
trabalhei nos períodos em que esses processos foram distribuídos, não sei nada sobre
isso", disse. A distribuição dos processos pelas varas é feita por sorteio no
computador. "Tenho muitos inimigos", afirmou Mattos. "Sete anos como
delegado (da Polícia Federal), dois como procurador e nove como juiz é tempo suficiente
para desagradar muita gente." |
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