O filósofo sul-coreano Byung-Chull Han, atualmente professor da Universidade de Berlim, é um desses portões de acesso capaz de nos levar a outras camadas de reflexão sobre o “Baleia Azul”.
Para ele, a sociedade de desempenho (que substitui a sociedade disciplinar) prima pelo excesso de positividade. Somos teleguiados pela lógica do excesso (super-comunicação, super-rendimento, super-produção), que nos quer sempre ocupados, respondendo aos estímulos que não param de nos cortejar frente às telas, agora ubíquas.
Nesta sociedade de desempenho, devemos ser designs de nosso próprio destino, gestores e gerentes de nossa vida e realidade, estar em perpétua atividade, a tal ponto de sermos designados como seres multitarefa.
Hipervisibilizamos tudo ou quase tudo que fazemos e experimentamos, sempre açulados pelos comandos de uma máquina (olha a que pode nos levar as perguntas “inocentes” do facebook: o que você está fazendo/pensando?).
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Comentei em outro artigo, por ocasião da febre do Pokemon Go (curiosamente outro jogo), que os aparelhos nunca desligam porque precisam oferecer não somente o que desejamos, mas também precisam dizer o que desejamos, demonstrando possuir um saber sobre o nosso desejo.
Talvez resida aí, nesse esquadrinhamento dos desejos, umas das chaves explicativas para a adesão ao jogo da morte. Jovens precisam desenhar utopicamente o horizonte dos seus desejos (não é à toa que uma das palavras de ordem do movimento estudantil de maio de 1968 foi “Sejamos realistas, peçamos o impossível”).
Quando as máquinas exercem essa tarefa por nós, nos esvaziamos de fantasias, recurso que sustenta o desejo, e um sujeito esvaziado de fantasia, ensina a psicanálise, é um sujeito débil para a produção de laço social.
Do excesso de onde parece não caber mais nada, que não oferece brechas (brechas são o que define a arte, diria Walter Benjamim), instala-se o vazio que se vê preenchido por um acúmulo de distopias, as antiutopias que nos instalam em lugar ou estado imaginário em condições de extrema opressão, desespero ou privação.
Sabe-se que as tecnologias não inauguram esses estados de distopia, mas elas os reconfiguram ensaiando alguns traços inéditos. E, ao que parece, são esses traços que vem alimentando uma plataforma de vida assaz pesada que limita, ou até mesmo interdita, os voos das asas da nossa imaginação para outros lugares não pontuados pelas regras do super-rendimento e da hiperprodutividade.
https://www.cartacapital.com.br/socie...ia-azul201d-e-as-tecnologias-da-morte
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