Nesta página você encontra 20 contos do livro "Crônicas de terror de Zé do caixão", editado em l993 pela Editora Associação Beneficiente e Cultural Zé do Caixão, SP, Brasil.
Estes textos, passados de um livro para mídia eletrônica foram originalmente escritas para o serviço tele 900 9666.
Ahh, Mojica das mídias...
Estes são os primeiros 20 contos, todos de autoria de Crounel Marins:
O ENGANO
O COMPROMISSO
O POLÍTICO
A CURVA DOS NEVES
CADEIA DA VIDA
O PORÃO DA VOVÓ
O QUADRO
O CAIXÃO
UM PRESENTE PARA IEMANJÁ
O PRISIONEIRO DOS SONHOS
A FACE DA MORTE
O ATROPELADO
O ENTERRADO
O CÃO
ARMADILHA
A CÉLULA
O MARGINAL
A BRUXA
SOB A LUA CHEIA
VODÚ
Cíntia andava rapidamente.Já ia entardecendo e não havia sinal de pessoas as quais pudesse pedir por socorro. Houvia o barulho das folhas secas sendo pisadas, como se estivesse sendo seguida. Receosa,começa a correr, ao que os passos tambem se apressam.O pânico toma conta da moça, que corre desorientada.
À sua frente, surgindo de trás de uma árvore, um homem.Assemelhava-se a um zumbi, a pele escura e enrugada, os ohos sem vida, um vrdadeiro cádaver ambulante.Ela retorna, em fuga, mas de todas as direções aquelas figuras vão aparecendo, cercando-a. Parecia um filme de terror, como dezenas que já havia assistido.Os mortos se levantavam e iriam levá-la.
Paralisada, Cíntia olha aqueles seres que se aproximam.As roupas em retalhos, lábios, orelhas e narizes meio comidos pelos vermes.Pedaços de carne pendurados àqueles corpos, imensas crateras nos rostos, eles a queriam.
Apontam para ela, mas, estranhamente, não pareciam inamistosos. Mantêm distância, como que respeitando seu pavor. Ela percebe, então, que eles têm algo a dizer.
Somente então ela percebe. Há sangue em sua roupa. Tomada por repentina consciência,leva as mãos a cabeça: seu crânio, estourado, deixava escapar um líquido viscoso, que vazava do seu cérebro. Ela havia sofrido um acidente, seu carro caíra num barranco. Aqueles cadáveres não iriam fazer-lhe mal. Ao contrário, davam-lhe as boas vindas ao reino dos mortos.
A Paixão que existia entre Carla e Armando era tanta que os amantes não mais se contentavam em jurar amor apenas por toda vida. Prometiam fidelidade para além da morte. Se um deles morresse, viria buscar o outro, para ficarem juntos pela eternidade.
O destino quis que armando se fosse primeiro. Uma doença rara, em poucos meses, acabara com sua vida.
A princípio, Carla pensou em suicídio, mas logo percebeu que seu amor pela vida era ainda maior que sua dedicação pelo marido.
A promessa feita, contudo, não a deixava em paz. Passou a ouvir ruídos, distinguir passos. Tinha pesadelos com o cadáver do ex-marido perseguindo-a, puxando-a para debaixo da terra.
Uma noite, despertou sentindo um hálito quente na nuca, uma língua áspera a lamber-lhe o rosto.Gritou o mais alto que seus pulmões permitiam. O gato,seu bichinho de estimação, pulou da cama, saindo correndo do quarto. Fora apenas um susto.
Carla percebeu então, que seus nervos estavam, realmente, em estado deplorável. Não poderia mais ficar sozinha naquela casa, em que cada objeto parecia lembrar-lhe as juras feitas. Arrumou rapidamente uma pequena mala, decidida a voltar, pelo menos por um tempo, para a casa dos pais.
Retirou o carro da garagem, acelerou fundo e partiu. Repentinamente, sentiu um forte puxão no seu braço. Não conseguiu mais controlar o carro, que se despedaçou contra uma árvore, numa curva que conhecia muito. Morrendo percebeu que, sob aquela árvore, ela e Armando haviam trocado seu primeiro beijo.
Ele era um político de sucesso. Sua energia e disposição fizera com que, cargo a cargo, atingisse tal poder que decidia sobre destinos como se escolhesse a cor da camisa que usaria.
Na sua subida,corrompeu-se de tal forma que já não recusava qualquer trato. Desviava verbas, favorecia hipócritas e demagogos,cercava-se de abutres. O poder o cegava.
Afinal, havia chegado o dia de realizar o negócio de sua vida. Havia tanto envolvido, que sua força seria inigualável. Poderia comprar tudo e todos, nada mais o deteria. Chegaria ao topo, nada mais poderia detê-lo.
Havia escondido de todos aquele negócio. Não poderia confiar tamanho segredo a ninguém. Foi, então, sozinho, ao encontro decisivo. Estranho encontro,aquele, à noite, num cemitério. Mas como ele mesmo dizia, as paredes tinham ouvidos. Seus parceiros tinham razão.
Não encontrou,porém, as pessoas que esperava. Logo, corpos, cadáveres, zumbis, o rodeavam. E um deles falou, até onde permitia a boca, já carcomida pelos vermes.
Aquela gente havia morrido de fome, pela comida que não viera, morrido de frio, pelo agasalho trocado por ouro. Havia morrido por doenças que simples remédios curariam. De todas aquelas mortes ele era acusado.
O político então notou,em cima de uma tumba, uma urna. Seria uma eleição,onde os mortos votariam o seu destino. A última eleição.
Chovia muito.A família Almeida seguia pela estrada, sinuosa e enlameada. Antônio guiava, preocupado; a mulher e os dois filhos procuravam ajudá-lo, olhando pelos vidros, procurando por alguma indicação. Lá fora a escuridão total, de uma via pouco cuidada, onde o mato cobria as poucas placas que ainda restavam.
Um carro veio buzinando pela outra mão, e fez com que Antônio parasse. Pelas janelas, as duas famílias conversavam. Os Neves, que vinham do outro lado, disseram que uma barreira havia caído, logo depois da curva próxima a eles. Aconselharam a Antônio que desse meia volta e rumasse com sua família até uma cidadezinha próxima, até que a tempestade passasse.
Antônio agradeceu e fez como lhe foi dito. Antes porém, aproximou-se cautelosamente da curva e observou, apesar da dificuldade de visão, a enorme cratera aberta na pista. Realmente, na velocidade em que se encontrava antes do aviso, talvez não tivesse tido tempo de desviar-se. Poderia ter caído barranco abaixo. Aquela advertência havia salvo a sua vida, e a da sua família.
Ao chegar a cidadezinha sugerida, parou num pequeno hotel, logo na estrada, talvez o único daquele lugar. Encontrou mais duas famílias, esperando por hospedagem naquela noite. Coincidentemente, estavam ali nas mesmas circunstâncias: haviam sido avisados pelos Neves sobre a queda da barreira. Antônio contou, então, o que vira na estrada, fazendo com que todos se conscientizassem da extensão do perigo que haviam se livrado graças ao aviso em tempo. Outro motorista disse que seguiu atrás do carro que o alertou até a entrada da cidade, perdendo-o de vista, então. Provavelmente aquela gente seria habitante do lugar.
Todos ficaram curiosos, e ao mesmo tempo desejosos de agradecer pessoalmente àquelas pessoas que haviam se dado ao trabalho de parar cada um daqueles carros, sob forte chuva, para alertá-los de um provável acidente. Como o dono do hotel chegara para atendê-los, perguntaram sobre a família Neves, descrevendo com alguns detalhes o carro em que estavam e a aparência das pessoas dentro dele.
O hoteleiro riu. Só poderiam estar brincando, ele disse. Os Neves realmente haviam morado ali, mas não existiam mais. A família havia morria 5 anos antes, soterrada num desbarrancamento, perto dali, numa noite de chuva como aquela.
A alma de Roberto vagava sem descanso na dimensão dos mortos. Não havia mais dor. A morte fora-lhe um alívio, pois a doença que o consumira durante anos tornara sua vida um verdadeiro inferno.
Roberto não alcançara, entretanto, a paz. Voltava aos lugares que conhecia, procurava os amigos, tentava se comunicar. Não havia como. Do outro lado,vê-se o mundo dos vivos,mas o inverso não ocorre, a não ser em situações muito especiais.
Observando as pessoas morrendo, via o instante do desligamento entre corpo e alma. Novos espíritos, a princípios cegos, juntavam-se a ele. Logo, enxergavam a nova dimensão. Muitos, rapidamente se afastavam, atraídos por uma força maior, outros ficavam perambulando pela vastidão sem fim, como que procurando uma porta de volta ao reino dos vivos. Era o caso de Roberto.
Olhando seus filhos crescerem na sua ausência, Chorava com saudades. Sua filha casara-se e ele não a levara pela mão. Agora, ela esperava um filho, o neto que ele nunca teria no colo. Aquelas cenas, como se fosse um cinema contínuo, apesar de alegres, causavam nele melancolia, ao ver inacessíveis seus desejos mais simples.
De repente, Roberto sente dor, como nunca em vida sentira. Sente-se despedaçado e, em desespero, teme que exista morte também para o espírito. É puxado para um turbilhão cósmico e sugado para a escuridão. Suas lembranças começam a se dissipar e o último som que ouve é um choro de criança, o seu choro. Roberto era agora seu próprio neto, seguindo a cadeia interminável da morte e da vida.
Sérgio desceu, degrau a degrau, as escadas daquele porão, que desde a infância lhe dava arrepios. Na época, imaginava monstros ali; agora, procurava algo precioso, que a velha e já caduca avó poderia ter esquecida naquela parte da casa. Era a última vez que teria de fazer aquilo, antes que a velha casa fosse vendida a uma construtora e o deixasse rico.
Pensava no martírio que havia sido sua vida nos últimos anos. Com a morte da mãe,ele passara a cuidar sozinho, da velha avó. Convivera por todo aquele tempo com a ameaça de ser deserdado, de ver a casa doada para um asilo de pobres, entre outras ameaças que ouvia a cada vez que não satisfazia um dos desejos da anciã. Enfim, o pesadelo havia terminado.
Sob a pouca claridade, ouvia o som de ratos, talvez ratazanas, dos quais ele tinha horror. É com muito custo que começa a revirar as caixas, entre a poeira de décadas e as camadas sucessivas de teias de aranhas.
Repentinamente, a porta se fecha. Ele tenta abri-la, mas a velha madeira não cedeu . Ele estava trancado. No seu desespero, esbarra na lâmpada pendurada, que cai, quebrando-se. Ele fica totalmente às escuras.
O guincho dos ratos fica maior. Sérgio sente-se cercado. Ao longe, ouve um lamento, um gemido, que parecia se aproximar.
Sérgio treme, e pela primeira vez amaldiçoa sua ambição impaciente, que fora a causa pela qual apresara, com veneno, a morte da avozinha.
Aquele quadro havia, de seta forma, enfeitiçado Aírton. Colecionador de arte, orgulhava-se de conhecer a obra de grandes mestres como poucos. Era capaz de, com um simples olhar, distinguir entre a obra prima e a falsificação, mesmo que quase perfeita. Mesmo assim, aquela tela desafiava seu poder de discernimento.
Na pintura, uma linda mulher entre flores . Um tema muito explorado entre pintores, de iniciantes a gênios universais. Os volumes, as nuances de cores, as diferenças de brilho, tornavam aquela tela especial. Aquela figura feminina exalava vida. Era assim que Aírton definira para si mesmo o quadro.
O que espantava é que a tela simplesmente não tinha história. Não havia assinaturas. O dono da galeria havia encontrado num velho sebo, junto com mobílias antigas. Encantando-se com a obra, comprara-a e trocara a moldura, nitidamente inferior. Aírton não se importou em colocar a pintura desconhecida junto à suas valiosas aquisições, e comprou-a, sem discutir o preço.
Aírton colocou a anônima obra-prima num lugar de destaque, na sala e , obcecado, dedicava, todas as noites, horas a contemplá-lo. Estava apaixonado pela figura daquela mulher, e já nem conseguia trabalhar, ou mesmo comer direito.
Uma noite, adormeceu aos pés do quadro, desejando dar sua vida para que aquela perfeição realmente existisse.
Quando acordou, não estava na mesma sala. A seu redor havia flores. Quis mover-se, mas não conseguia. Estava preso. Era ele que, então, estava no quadro. Era sua vez de esperar a libertação, pelo amor de alguém que o quisesse tanto a ponto de trocar sua vida pelo cárcere daquele mágico quadro.
Você já comprou seu caixão? Não, não se trata de morbidez. Pense...
Durante toda sua vida,você demonstrou ter personalidade. Escolheu as roupas para vestir-se, os móveis de sua casa, os produtos de sua preferência. Escolheu com quem namorar, com quem ter uma simples amizade e de quem manter distância. Em cada detalhe a uma marca sua.
E agora, corre o risco de deixar seu último bem ser escolhido pelos outros. Não tem sentido.
E se for feio, apertado, duro.
Uma vida inteira preocupando-se com seu prazer, seu conforto. E, de repente, uma eternidade a ser passada num local que nada tem do seu estilo.
Ou você pensa que morto, estará insensível?
Aceite um conselho: compre agora seu caixão. Não precisa ter muita pressa, pesquise um pouco. Verá que há muitos modelos, alguns dos quais sequer pensou poder existir. Algum, com certeza se adaptará aos seus padrões de exigência. Se encontrá-lo, não discuta preço, leve-o. Afinal, ele será sua morada eterna.
Após compra-lo, leve-o para casa, deixe-o no quarto, deite nele de vez em quando, só para ensaiar. Escolha a melhor posição e deixe recomendações de somente assim o colocarem. Não permita disserem que ,depois de morto, você perdeu a classe.
Decida-se logo, pois, talvez não haja muito tempo para isso.
Pedrinho era o que se poderia chamar de"garoto de ouro", encantando a quem conhecia. Apenas 8 anos e parecia um exemplo para qualquer adulto. Inteligente, prestativo, motivo de orgulho para a jovem mãe, Marisa.
Na praia, recebia seu merecido prêmio. Havia terminado o ano como primeiro da classe. Chegava a espantar os professores, tal sua esperteza. Previam-lhe um futuro brilhante. Mariza preocupava-se, pois, às vezes, parecia que o menino não tinha uma infância normal, tão solicitado que era pelas pessoas. Por isso, naquelas férias, queria vê-lo brincar, como qualquer criança da sua idade.
À beira-mar, o garoto construía castelos de areia. Marisa, estirada na cadeira, relaxava-se tranqüila. Sabia que o filho conhecia os perigos do mar e, apesar de nadar muito bem para idade, não se afastaria. Outro menino, e provavelmente ela, não teria paz, tendo de gritar a toda hora para que tomasse cuidado.
De repente, Pedrinho começa a caminhar, como que hipnotizado, e avança contra as ondas. Marisa inquieta-se, e grita pelo filho, que não responde. Pedrinho está com água pelo pescoço e não faz menção de começar a nadar. A mãe, em súbito desespero corre a seu encontro. Alguns banhistas percebem que algo não está bem e seguem em direção à criança. O menino, então mergulha.
Na confusão uma mulher grita: "É Iemanjá, ela quer o garoto".
Marisa então se lembra. Quando moça fizera uma promessa à senhora das águas. Fora atendida, mas esquecera o pagamento combinado, uma bugiganga qualquer. Coisa de adolescente. Iamanjá, contudo, não esquecera, e viera cobrar aquela dívida antiga.
Marcelo corria, perseguido por um enorme monstro, uma estranha criatura que iria devorá-lo, se o alcançasse. Seu braço sangrava, havia ali um ferimento profundo. Marcelo tropeça e cai, a fera avança contra ele, que grita e... acorda.
Havia sido um sonho, estava na cama com a namorada, que ,assustada, dizia ter tido ele um pesadelo. Para acalma-lo ela beija-o com ardor. Ele logo se excita, começando uma troca de carícias cada vez mais íntimas. Vai esquecendo o pesadelo, imerso em beijos. Fecha os olhos, em êxtase, mas ao abri-los, uma horrenda bruxa, o corpo flácido e enrugado, o semblante maligno, a risada estridente. Ele grita, sentindo o braço ferido pela serva de satã.
A mãe o sacode. Não há bruxa,havia sido outro pesadelo. Marcelo vê que os pais e irmãos, atraídos pelos gritos, estão no seu quarto. Ele chora. A mãe, carinhosamente, o abraça. Sob o lençol, centenas de vermes. Sua família se transforma em cadáveres decompostos. O pai não mais possui olhos, a língua do irmão mais velho cai da boca, enquanto todos procuram abraçá-lo. No seu próprio braço ele vê um buraco, uma enorme ferida, e grita com toda a força dos seus pulmões.
Marcelo acorda, mas está no nada. Está num pesadelo dentro de um pesadelo,numa seqüência que não sabe aonde acaba. Agora só há uma névoa, e ele, um filete de sangue escorrendo do braço. Então ele se recorda. Lembra da sua tentativa de fugir da realidade, desinteressante, tediosa, e entrar no mundo dos sonhos. Queria"entrar na onda", como diziam os colegas. Lembra-se da droga,da seringa,da picada...
Talvez fosse uma overdose, não havia como saber. Talvez estivesse entre a vida e a morte. Certeza mesmo, restava apenas uma: da névoa a sua frente surgiria o próximo monstro, o próximo grito, o próximo acordar, o próximo pesadelo, talvez por toda a eternidade.
Ângela julgava-se a mais infeliz das mortais. No espaço de 5 anos havia perdido três das pessoas as quais mais amava: o pai, a mãe e o marido. Não ficara sozinha no mundo, entretanto, possuía uma grande família, que sempre fora unida e, o mais importante, tinha três filhos que seriam o orgulho para qualquer mãe. No entanto, ela preferia as lembranças, vivendo uma espécie de passado permanente, chorando seus mortos.
Ela implorava às almas de seus entes queridos para que não a abandonassem. Maldizia anjos e santos por terem tirado tão cedo de sua presença pessoas que lhe faziam tanta falta.
Certa noite, um vento zuniu mais forte e um clarão iluminou o quarto de Ângela. Lá estava seu pai, sua mãe, seu marido, decompostos , os ossos à mostra, tentando abraça-la, confortá-la. Seu amado não tinha mais olhos, apenas buracos no rosto. Sua mãe, ainda lembrava muito do que fora, mas o corpo estava coberto de manchas coloridas, sua pele enrugada e o cheiro insuportável. Ângela mal podia respirar, aquele odor nauseabundo ocupando cada espaço nos seus pulmões. Ela gritou para que fossem embora, mas eles ficaram encarando-a com uma ternura resignada. Ela implorou, suplicou, mas as carcaças desfiguradas não se mexiam; elas simplesmente não poderiam mais ir embora.
O desespero de Ângela havia chamado a atenção de forças poderosas. Aquelas almas sem descanso a acompanhariam por onde fosse, até o fim da sua vida.
Estava frio. Ele voltava para casa pensando em se aquecer, tomar uma bebida forte e passar a noite na cama com sua mulher, jovem e quente como uma brasa viva.
No caminho, presencia um horrível atropelamento, as pessoas se aglomerando, o sangue escorrendo, pedaços da vítima pelo chão, a polícia chegando. Procura não olhar, um arrepio percorre-lhe a espinha e ele sente mais frio.
A luz da lua espalhada pela neblina cria-lhe a impressão de estar em outra dimensão. Chega a seu prédio. O zelador, meio sonolento nem o cumprimenta. Sobe as escadas correndo, nem querendo esperar pelo elevador. Entra em casa e chama pela mulher. Ela parece não ouvir. Vai para o quarto. Ela se penteia, a camisola delineando um corpo perfeito. Ele a chama, ela parece continuar não ouvindo. Ele se aproxima, vê o espelho refletindo a beleza do rosto da mulher, a boca vermelha, carnuda. Ele encosta seu rosto no dela e nada sente. No espelho não vê sua imagem.
Finalmente ele percebe:aquele corpo estendido no chão era seu. Era seu o sangue escorrendo do corpo daquele atropelado a quem, por intuição, não pudera encarar no rosto. Ele estava morto.
Em sua vida, só tinha medo de uma coisa: ser enterrado vivo. E havia acontecido. Deveria ter tido um ataque cardíaco ou coisa parecida, deram-no como morto e o sepultaram. A família não respeitara sua vontade, haviam trancado o caixão, jogado terra sobre ele.
Eavia pouco tempo, agora. se não saísse logo o ar lhe faltaria e ele teria a mais horrível das mortes. mas ele não desistiria. iria até o fim, lutando, mesmo no auge do desespero.
E, tanto bateu, tanto forçou, que sentiu a tampa do caixão se esfacelando. pela primeira vez agradeceu aos céus ser pobre. nem um caixão de qualidade puderam comprar-lhe.
Para ele era um milagre. conseguiu firmar-se no chão e escavava a terra. o ar não lhe faltava, deveria entrar pelo solo seco. sentia a s unhas soltando-se dos dedos, na certa ensangüentados, pela força que fazia. mas não desistiria. já ouvia vozes, deveria ser dia ainda. talvez fosse seu próprio enterro, pois não poderia estar ali, vivo, por mais de algumas horas.
Conseguiu por uma das mãos para fora. percebeu gritos, pessoas assustadas. ele ria, pensando que , de seu lado, já fora de perigo, a situação passava a ser até engraçada. finalmente, colocou o corpo para fora. havia terra em seus olhos,mas podia ouvir os gritos de extremo terror, os desmaios...
Ele procurou gritar, acalmar o povo, mas a voz não lhe saia. os olhos não se abriam. as pessoas corriam. o padre benzendo-se avançava contra ele com uma cruz.
Aí, olhou para si, e gritou, apesar do silêncio que continuou na sua boca, pois não havia cordas vocais. de todo o seu corpo saiam vermes, pedaços podres caiam no chão. sim, ele estava morto, apodrecendo a muito tempo, apesar de lhe restar, talvez por maldição, alguma forma odiosa de vida.
Obs.: o leitor pode notar que,o corpo apesar de não ter olhos, pode olhar para si,ver os vermes e, momentos antes, ver o padre vindo em sua direção.
Um homem simples, um operário calejado pelos anos de trabalho duro. Talvez fosse esta a descrição que mais se aproxima-se de Carlos. Alguns bons amigos, nenhum inimigo. Melhor dizendo, havia um: aquele enorme cão negro, numa casa entre a sua e o ponto de ônibus, um trajeto que percorria na ida e na volta do trabalho. Era vê-lo e o cachorro latia incessantemente, agitando-se atrás de enormes grades que os separavam. Era estranho, parecia que a fera só se comportava assim em relação a ele.
A imagem daquele monstro em forma de cão perseguia-o até nos sonhos. Nestes era estraçalhado, pedaço a pedaço, depois de uma perseguição implacável em que era sempre alcançado. Carlos via naquele cão a própria encarnação de Satanás.
Decidiu dar fim aquilo de uma vez. Colocou veneno de rato num pedaço de carne e, sorrateiramente, ofereceu ao inimigo sua última refeição. Estava livre.
Durou pouco, entretanto, a tranqüilidade de Carlos. Nos dias que se seguiram, ele começou ouvir latidos como se o animal estivesse logo atrás de si. Não havia lugar, ocorria em casa, no trabalho, a qualquer hora. Teve então a certeza: aquele cachorro era mesmo uma manifestação do demônio, e agora queria vingança. Só lhe restava andar com crucifixo benzido no bolso, talvez sua única possibilidade de salvação.
Algumas semanas se passavam. Era noite. Carlos, cansado pelo dia estafante, vinha distraidamente atravessando a rua, quando ouviu a buzina. Um enorme caminhão sem tempo de brecar, iria atropelá-lo. Petrificou-se e sentiu a morte chegar. Um vulto negro, entretanto, surgindo do nada salta em suas costas, jogando-o fora do alcance do veículo. Era o cão, o Demônio negro.
Carlos encara naqueles olhos pela primeira vez, e o que vê não é ódio. Havia amizade naquele olhar. Amizade e tristeza. O cão vira-lhe as costas e vai-se embora, agora para sempre. Carlos amaldiçoa sua condição humana que ,por todo aquele tempo não fora capaz de entender o carinho que existia por trás daqueles latidos. Um laço de afeição tão forte que rompera a barreira da morte.
Luís maldizia seu carro, que o deixara a pé, de madrugada, sozinho numa estrada deserta. Não conseguia encontrar o defeito. Não queria admitir, mas receava ter de passar o resto da noite ali, pressa fácil para marginais.
Ouviu passos atrás de si. Não esperou, sacou o revólver que trazia e atirou no vulto negro. Uma voz de mulher pediu-lhe para que não fizesse aquilo. Luís correu para a moça , que logo acalmou-o. O tiro não havia acertado o alvo. Fora sorte. Luís era um excelente atirador.
Carmem, este era o nome da moça, disse que ouvira suas tentativas para fazer com que o carro pegasse e veio lhe oferecer pernoite. O lugar era , realmente perigoso. Luís não pensou duas vezes: há pouco, sozinho na escuridão; agora, recebendo tal convite de uma mulher, no mínimo, sedutora.
Para cortarem caminho, disse carmem, passariam por um cemitério abandonado. Luís riu, não era disso que tinha medo. Para ele os mortos descansavam pela eternidade; só os vivos, aos vivos poderiam fazer mal. A moça concordou.
Passando por um túmulo, Carmem repentinamente sumiu. Luís chamou-a não obtendo resposta. Aproximou-se do local, e leu o epitáfio pregado à cruz, palavras escolhidas provavelmente pela própria morta: "Carmem de Assis: na vida muitos amores; na morte esteve só". Luís sentiu seu sangue gelar, tentou fugir, mas era tarde: a terra abriu-se e mãos pareciam agarrar e puxar suas pernas.Carmen não estaria mais só.
PAULA HAVIA RECEBIDO O PEDIDO DE DIVÓRCIO DO MARIDO. ele A DEIXARA, COM FILHO PEQUENO, POR OUTRA MULHER. NÃO LHE FALTARIA NADA MATERIAL, ELA SABIA, MAS NADA SUBSTITUIRIA O AMOR QUE HAVIA CULTIVADO POR TODOS AQUELES ANOS. não CONSEGUIRIA VIVER COM OUTRO HOMEM. PENSOU NO FILHO CRESCENDO SEM UM PAI. QUE EDUCAÇÃO PODERIA TER?
DISPOSTA A TUDO PARA NÃO VER TERMINADO SEU CASAMENTO, A CONSELHO DE AMIGAS FOI PROCURAR UMA VELHA, TIDA COMO BRUXA MUITO PODEROSA. A VELHA DISSE QUE PODERIA Ajudá-la A TER DE VOLTA SEU MARIDO, MAS ELA TERIA DE DAR AO PRÓPRIO DEMÔNIO UMA PARTE DE SEU CORPO.
Paula assustou-se, mas a anciã garantiu-lhe que seria apenas um pequena parte, na verdade uma única célula. Ninguém jamais perceberia e sua alma ficaria intacta. Paula então consentiu. Afinal, uma gota de sangue ou um pedaço de sua pele não iriam, realmente, fazer falta.
O feitiço foi realizado. Paula foi mandada para casa, pois seu marido não tardaria a chegar. Ela mal podia conter a felicidade que tomava conta de si. Quis pagar imediatamente, perguntando o que ,então deveria dar ao Diabo. A velha riu,assustando-a, mas, maternalmente disse para ela que não se preocupasse pois nada devia. A moça não entendeu, mas como fora preparada para atitudes estranhas da dita bruxa, que então mais lhe parecia uma santa, não insistiu e seguiu as palavras da feiticeira.
Antes que pudesse sequer pensar em tudo que acontecia, viu que um médico deixava sua casa, com aparência consternada. O marido, ainda em prantos disse que viera chamado pela empregada. O menino havia adoecido inexplicavelmente. Havia chamado um médico, mas já era tarde. Seu filho estava morto.
Paula então soube qual parte de si havia sido dada ao Diabo: seu filho, que já havia sido um simples óvulo, uma pequena célula de seu corpo.
Ronaldo, ou melhor, "Dinho", como era conhecido pela marginália, tomou o ônibus noturno como fazia há anos. O 45, escondido na cintura, por baixo da camisa. Era só esperar a hora.
Enquanto o ônibus rodava, "Dinho"lembrava de seus feitos. Escapara da prisão por 3 vezes, parecia que não tinha como segura-lo. Nunca conseguiam sequer levá-lo a julgamento, pois ele fugia antes que a morosa justiça o fizesse encarar o juiz. Mesmo que esse dia chegasse, pensava ele, não deverias haver muitas testemunhas vivas.
Tido como frio e insensível a morte, ele já havia livrado o mundo de mais de vinte almas corajosas", como costumava a caçoar. Era reagir e bala. Às vezes nem isso. Bastava um olhar firme em sua direção e ele atirava. Alguém que tivesse coragem para encará-lo, bem poderia denunciá-lo. pensava. Não interessava se homem, mulher, jovem ou velho: atirava sem dó. E naquela noite "Dinho" pressentiu que sua arma teria muito trabalho.
Era hora. Lá fora, a escuridão denunciava que o ônibus havia entrado em zona de pouco movimento."Dinho"levanta-se já de arma em punho e grita:"- É um assalto". O cobrador e os passageiros parecem não tomar conhecimento. "-É um assalto", torna a gritar o bandido. Novamente ninguém faz qualquer movimento.
Dinho então reconhece no rosto daquelas pessoas aqueles que havia assassinado. Pula a catraca e já desesperado, ordena que o ônibus pare. O motorista continua imóvel. Ele atira, uma, duas, três vezes .As balas perfuram as janelas, passando por aquelas pessoas, almas que não conseguiam descansar sem que houvesse justiça.
O marginal, senta-se, então, chorando. Pela primeira vez, o assassino frio chora de medo, imaginando o horror do ponto final daquela viagem.
Cristina era uma socióloga respeitada. Especializou-se no estudo da época da inquisição, quando, sob o manto da igreja, pessoas eram queimadas sob acusação de bruxaria. Através de suas pesquisas concluiu que, na maioria das vezes a perseguição era política, os acusados nunca haviam se envolvido com satanismo. Alguns casos pareciam típicos de doentes mentais, que mais deveriam ir para o sanatório que para fogueira.
Um caso, contudo, chamou-lhe a atenção: Catarina, uma mulher do sec. XVII, queimada num povoado do interior, conhecida como a maior das feiticeiras. As lendas que dela se contavam perduravam até os dias atuais, sobre seu poder e maldade. Morrera queimada, jurando vingança.
Cristina viajara para a cidade que se desenvolvera perto do antigo povoado onde a bruxa teve seu fim. Verificou que ,apesar dos séculos, as pessoas conheciam histórias sobre ela, havendo inclusive aqueles que jurassem ter visto reunião de demônios comandados por Catarina em um vale próximo. Cristina ia assim juntando material para uma nova tese, sobre o imaginário popular'
Algumas coincidências, porém, logo chamaram-lhe a atenção. De tempos em tempos sumiam crianças na região, que nunca eram encontradas. Assim como começavam, os desaparecimentos terminavam. Catarina era considerada culpada, mesmo séculos após ter morrido. O fato é que nunca qualquer pista foi encontrada. Justamente após sua chegada na cidade, crianças começam a sumir, sem deixar vestígios. Havia mais de cinqüenta anos que aquilo não acontecia, portanto não poderia ser a mesma pessoa. Três garotos estavam desaparecidos. Não havia pista alguma, uma testemunha que fosse.
Cristina envolveu-se com as investigações. Sentia que ,se desvenda-se aquele crime poderia explicar a estranha influência que aquela lenda exercia sobre a população daquele lugar.
Passado algumas semanas nada de novo havia sido descoberto. Das outras crianças não mais foram vistas. O delegado local pensava até em pedir ajuda federal. Cristina não dormia direito, procurando, pela lógica, encontrar uma solução.
Um dia a socióloga aparece na delegacia. Não havia dormido a noite anterior. Apesar de cientista tinha uma intuição. Visivelmente alterada, pediu ao delegado que a acompanhasse com alguns policiais. Foram ao local onde, pelos relatos que descobrira, Catarina havia cumprido pena. Era um pequeno vale. Movida por uma força estranha, Cristina, com as mãos escava o sopé de um morro próximo. A terra estava fofa. Os pequenos ossos não demoraram a aparecer.
Ao ver tudo aquilo, o rosto de Cristina se transformou. À vista incrédula dos policiais, ela começava a gritar palavras incompreensíveis. Era como se duas almas lutassem por um só corpo. Suas feições iam, aos poucos, se transformando. Ela despiu-se até que, completamente nua começou a dançar freneticamente, num ritmo cada vez mais rápido, começou a levitar. De seus olhos, emanava o próprio mal. Cristina havia sacrificado aquelas crianças. Sem saber, seu corpo fora apossado por Catarina, que assim executava a sua vingança.
Marília de nada tinha medo, era o que sempre dizia. No sobrenatural não acreditava. Quanto as ameaças do mundo moderno ,enfrentava sem qualquer receio. Assim mesmo, achou estranho o convite do namorado, para irem a um cemitério abandonado, de modo a ficarem mais tranqüilos. Com certeza havia locais mais recomendados. De qualquer forma poderia ser uma mania dele, de certa forma inofensiva. Aceitou, não sem antes fingir relutância.
A lua vermelha, cheia, parecia tomar conta de todo o céu. O cemitério assumia contornos místicos, isso ela não podia negar. A solidão daquele lugar fazia com que Marília abraçasse mais apertado o namorado, rapaz charmoso, que a conquistara ao primeiro olhar.
Os namorados sentaram-se sobre a lápide e logo trocavam beijos apaixonados. Marília sentia mãos percorrendo o seu corpo, entrando por baixo de sua blusa. Pensou em dificultar, fingir um temor que não mais sentia, mas percebeu ser inútil. Estava exitada e entregava-se completamente aquelas carícias.
Ele a beijava sofregamente, na boca, no rosto, no pescoço. Mas o prazer, num segundo, transformou-se em dor. Ele a havia mordido com tal força que, por pouco, não arrancara um pedaço de seu corpo. Ela gritou, encarando-o... mas não era o mesmo homem com quem estivera até a pouco.
Diante de seus olhos incrédulos, ele se transformava. Sob a luz da lua a maldição se repetia. Os dentes cresciam, pelos afloravam por todo o corpo. Era um lobisomem, como nas lendas, nas histórias contadas por seu avô, às quais julgava tolices supersticiosas, ou meramente tentativas de um velho homem chamar atenção para si. Mas estava acontecendo, de verdade. A besta cheirava o sangue que corria do seu braço.
Ela lutava pela vida, sentia suas roupas rasgadas com fúria, a pele sedendo as unhas afiadas. A vontade de viver, contudo, era muito forte. Tanto que ela conseguiu desvencilhar-se e corria, colocando todo o seu desespero em cada passada. Mas seria inútil, a fera iria alcança-la.
De repente, da escuridão um homem grita: "- Vá embora". Ela estava salva.
A besta sentira medo daquele homem, seu herói, que a envolvia. Ainda tremendo, encara seu benfeitor, e seu alívio transforma-se em terror.
Aquela pele fria, os olhos vermelhos, o semblante maligno, mostrava a verdade. Aquele lobo que a ferira era como um cachorro, enxotado pelo dono que a dominava, este sim, o maior dos monstros.
Um garoto de mentalidade irrequieta, assim era Jairo. Seus 13 anos pareciam ter sido dedicados a caça de problemas. Na vizinhança, na escola, todos o conheciam e ao pressentirem sua presença preparavam-se: algo com certeza ia ocorrer. Uma característica, no entanto, contrastava com a grande atividade mostrada pelo garoto: era fanático por livros, na linguagem dos amigos, um"rato"de biblioteca. Realmente era capaz de ficar horas folheando velhos manuais de reconhecimento de borboletas, enormes atlas antigos ou qualquer coisa que chama-se sua atenção. Era um verdadeiro alívio para os pais saberem que Jairo havia ido para biblioteca.
O que ninguém havia percebido, no entanto, é que muitas de suas idéias com as piores conseqüências havia saído justamente daquele amontoado de saber. Chegara a montar um para-raio improvisado no barracão do quintal, utilizando velhas pontas de ferro. E, por incrível que possa parecer, o projeto funcionou. Isto é, ao menos metade, pois Jairo esquecera o aterramento. Havia sido pura sorte que durante a tempestade, alguns dias depois não houvesse alguém no local, literalmente destruído.
Agora Jairo tinha achado algo mais interessante, que fugia de qualquer ciência: um livro, na verdade um maço de folhas a cerca do vudú caribenho. Imergiu naquele mundo de zumbis e bonecos que representavam pessoas. Fantasiou a possibilidade de ser realmente verdade. Não cogitou por muito tempo; partiu para a prática.
Hábil, costurou dois bonecos. Conforme o livro os mesmos deveriam ter algo da pessoa a quem representariam. Conseguiu uma mecha de cabelo da irmã, enquanto ela dormia, e terminou o primeiro boneco. Enquanto dava os retoques no segundo boneco, pensava na segunda vítima. Distraído, acabou perfurando o dedo com a agulha e resolveu terminar por então. Testaria o boneco já pronto, e se não funcionasse ,deixaria o risco de transformar sua mão em almofada para agulhas. Recitou as preces do livro e foi procurar Marina, a irmã mais velha que tanto implicava com ele. Escondido, pegou a enorme agulha e tocou a perna do boneco; a irmã imediatamente olhou para a própria perna, assustada. Jairo percebeu, e enfiou a agulha, fazendo com que a moça gritasse de dor. A mãe acudiu, mas não encontrava nada que pudesse causar tanta dor a filha. Jairo segurava-se para não rir. Na verdade ficara um tanto assustado, pois ,realmente, não queria machucá-la. Mas a imaginar que poderia usar o segundo boneco para representar o namorado de Marina e trabalhar com os dois juntos, não conseguia conter o riso.
Saindo de seu esconderijo, sentiu uma forte fisgada no braço, como se um prego tivesse ali entrado. Nada havia. Na perna uma dor ainda mais forte. Era como se estivesse sendo dilacerado. Seu corpo começava a sacudir ,sem controle. A mãe e a irmã ficaram estáticas, chocadas. Jairo consegue ainda raciocinar e corre para o quarto. Era o outro boneco. Tinha seu sangue, do ferimento da agulha. O boneco que sobrara, era ele. Mais não havia mais tempo. Nero, seu pastor alemão havia descoberto o brinquedo e o destroçava, sem perceber seu dono partindo-se a cada dentada.
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