Todas as vezes que se passam os olhos pelo noticiário dos
jornais a respeito das fraudes cometidas na
Corretora Banespa no início do governo
Orestes Quêrcia. a sensação que se tem é de que existe um
considerável estoque de lama a ser revolvida. Neste estágio da
investigação, a impressão é mais drástica: a lama acumulada ao longo dos
últimos meses parece estar sendo usada justamente para turvar as águas,
quando começa a surgir a oportunidade de se vislumbrar o leito do rio
pelo qual correm os fatos. O
afastamento do delegado Luzenildo
Félix da presidência do inquérito
que Investiga a tentativa de suborno para Inocentar o ex-presidente do
Banespa,
Otávio Ceccato.
é uma peça a mais nesse quebra-cabeça infernal.
A sociedade sentiu, na disposição do delegado
Luzenildo Félix
em apurar os encontros agendados pelo atual
secretário da Indústria e comércio com os policiais encarregados da
investigação das fraudes da
Corretora Banespa,
uma espécie de luz no fim do túnel. O rumo dado à Investigação pelo
presidente do inquérito parecia, enfim, abrir caminho na direção de
algum fato Jurídico concreto, capaz de comprometer criminalmente os
verdadeiros culpados pelas operações fraudulentas realizadas pela
corretora do banco estadual, acontecimento raro na história policial e
da Justiça no Brasil. A brusca retirada de
cena do delegado parece turvar novamente as águas que,
após muito tempo, começavam, pelo menos, a parecer
transparente.
Aliás, esta parece ser uma constante nos
trabalhos da apuração do escândalo financeiro do
Banespa:
sempre que eles parecem ganhar um rumo
definido, aparece algum desvio para esconder da opinião pública seu alvo
principal, os diretores da Instituição financeira que praticou as
fraudes já comprovadas.
O insistente noticiário sobre a prisão de
Georges P. Sellinas,
que se atribui o papel de denunciante do eventual suborno oferecido ao
delegado responsável pelo Inquérito da fraude da compra das
ATMs, é uma dessas tentativas evidentes de desvio
da atenção pública do foco central da questão. Georges
P. Sellinas, que se atribui o papel de denunciante
do eventual suborno oferecido ao delegado responsável pelo Inquérito da
fraude da compra das
ATMs,
é uma dessas tentativas evidentes de desvio da atenção pública do foco
central da questão.
Agora começa a ser discutido o possível afastamento do
superintendente da Polícia Federal em São
Paulo, delegado Marco
Antônio Veronezzi, por ele mesmo haver
pedido uma devassa das contas bancárias de todos os implicados,
inclusive dele mesmo. Evidentemente, essa discussão só pode ter
como objetivo a mudança de enfoque do noticiário de forma a que o
realmente importante, as fraudes financeiras da
Corretora Banespa,
seja esquecido pelo contribuinte —
a verdadeira vítima do crime cometido pelos diretores da Instituição.
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A
prisão de Sellinas e a possível demissão de
Veronezzi
soma-se agora o afastamento de
Luzenildo Félix,
cuja eficiência na presidência do inquérito foi elogiada publicamente
pelo diretor do DPF Romeu Tuma,
no exato momento
em que o afastava do posto!
A todo o emaranhado em que se pretende embrulhar o caso
Banespa, Justamente no instante em que
aparentemente alguém tinha encontrado o fio da meada,
acrescenta-se também a ação atabalhoada do
ministro da Justiça, que intervém, sem ser chamado, no caso, em nome de
uma velha amizade pelo governador de São Paulo. Quando
Luzenildo Félix disse, por exemplo, que, em
tese. o governador poderia se convocado a dar esclarecimentos,
Paulo Brossard Irritou-se a
ponto de mandar um ofício ao diretor do
DPF,
seu subordinado, reclamando da utilização política pelo delegado de um
caso meramente técnico.
Mais do que atabalhoado, esse género de interferência do
ministro Brossard no trabalho da polícia
chega a ser impertinente e nocivo ao interesse comum da sociedade.
Sua condição de ministro não
apenas não autoriza essa intervenção em favor de um amigo, de quem se
orgulha privar da intimidade em declarações públicas, como até a proíbe.
Não cabe a
Brossard,
enquanto ministro da Justiça, ser amigo de ninguém, mas zelar pelo livre
e descomprometido trâmite dos processos investigativos sob a
responsabilidade de seus subordinados. É para isso que ele está lá e,
por essa atividade. o público lhe paga os vencimentos.
A Polícia Federal
cumprirá seu dever para com a sociedade se Rubens
Lessa, da Coordenadoria Judiciária do DPF,
em Brasília, der realmente continuidade ao trabalho esclarecedor que
vinha sendo desenvolvido por seu antecessor.
Luzenildo Félix, na condução do inquérito sobre as denúncias de
suborno para inocentar Ceccato. É isso que
se espera, até mesmo por se levar em conta as declarações freqüentes do
diretor-geral da PF, Romeu Tuma, não apenas
ao elogiar Félix, mas também ao assegurar
que o fio da meada por ele encontrado será retomado por seu substituto.
O ministro da Justiça também terá
a oportunidade de prestar um grande serviço público se se mantiver
neutro em relação às investigações feitas em São Paulo, até porque tais
investigações podem desabonar a conduta moral de
Otávio Ceccato,
amigo de um amigo seu, Orestes
Quêrcia. Dele a sociedade só exige
que permaneça neutro acima de tudo, para que a verdade possa emergir dos
autos, doa a quem doer.
A interferência da política na ação
policial não ajuda em nada na construção da democracia sólida e justa
pretendida por todos os brasileiros. E
Paulo Brossard
dará boa contribuição nesse sentido se parar de interferir e passar a
usar sua força para prestigiar os delegados realmente interessados em
investigar o que aconteceu nas fraudes financeiras da
Corretora Banespa. |