O vale tudo para reativar a..."parceria"

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Estado de São Paulo, 03 de Dezembro de 1995

Fiel Transcrição:

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MISSÕES "ESPECIAIS" SÃO APELIDADAS DE 'XAVECOS'

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Agentes estão acostumados a realizar operações que não devem seguir os trâmites normais.

 

Garisto: solicitações pesadas envolvem muito dinheiro e poder.

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FERNANDO GRANATO
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Os pedidos políticos são uma rotina na atuação da Polícia Federal e têm até um apelido usado na gíria dos agentes em todo o Brasil: são os "xavecos", ou seja, aquelas missões especiais que não devem seguir os trâmites normais, como ocorreu no recente caso das escutas telefônicas que derrubaram o embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial do Palácio do Planalto.

No episódio do grampo no telefone do embaixador, o "xaveco" teria ficado por conta do agente Paulo Chelotti, segundo a unanimidade dos federais que participaram nessa semana do Congresso Nacional dos Policiais Federais, em Porto Alegre (RS). Paulo é irmão do diretor-geral da PF; Vicente Chelotti, e foi um dos seguranças da campanha eleitoral do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na campanha, conheceu Francisco Graziano e foi recentemente convidado para assessorá-lo no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

"Essa operação tinha de ser feita pelos canais competentes, mas todo mundo deixou isso de lado porque se tratava de um pedido vindo diretamente de alguém muito próximo ao Palácio do Planalto", afirmou Francisco Carlos Garisto, da Federação Nacional de Policiais Federais.

Segundo Garisto e outros líderes sindicais presentes ao congresso, esses pedidos eram mais freqüentes em governos passados, mas ainda acontecem. Variam desde o simples pedido para a expedição de um passaporte em 15 minutos, passando pela liberação de malas nos aeroportos, até chegar a "xavecos" mais pesados, ou seja, negociações que envolvem muito dinheiro e nomes muito próximos ao poder.

Agenda especial — Lauro Trapp, outro sindicalista presente ao congresso, representando os federais de São Paulo, conta que no período em que chefiou uma das equipes da Polícia Federal no Aeroporto de Guarulhos, na década de 80, havia até uma 

agenda especial para os pedidos considerados vips.

"Eram pedidos que vinham por meio de telefonemas de autoridades da própria PF, para beneficiar políticos e pessoas próximas ao Poder, nas mais variadas modalidades", conta Trapp.

Um outro agente que esteve em Porto Alegre conta que durante o governo de José Sarney teria sido usado várias vezes em serviços "particulares" para amigos do presidente. "Sobretudo para um amigo paulista fabricante de componentes eletrônicos. "Cansei de liberar contrabando para esse empresário, por ordem superior"; conta. Segundo esse mesmo agente, caso semelhante teria acontecido durante o governo do general João Figueiredo, com um amigo do presidente que era dono de um famoso restaurante em São Paulo. Uma operação comandada pelo delegado José Augusto Bellini teria encontrado grande quantidade de mercadorias irregulares no depósito desse restaurante.

Um simples telefonema teria sido responsável pela imediata desmobilização da operação policial. A importância política da PF, na opinião dos agentes presentes a esse congresso, pode ser medida pela ferrenha disputa de cargos na sua cúpula.

•  "O atual diretor-geral está tendo dificuldade em nomear os superintendentes regionais que ele quer nos Estados", afirma o sindicalista Garisto.

Segundo o sindicalista, em São Paulo o diretor Vicente Chelotti queria nomear para a superintendência o delegado Roberto Precioso Júnior, enquanto o grupo ligado ao ex-diretor-geral e atual senador Romeu Tuma (sem partido) queria nomear Marco Antônio Veronezzi. O filho do senador, deputado Robson Tuma (PL-SP) teria apresentado ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, uma lista com a assinatura de 70 parlamentares pedindo pela indicação de Veronezzi. Nem Tuma, nem Chelotti levaram. O escolhido foi o delegado Yokio Yoshiro.

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