O Estado de São Paulo, 19 de julho de 1988

Fiel Transcrição (Foto reduzida).

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Ele fez a denúncia

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O homem que denunciou o escândalo de suborno de um milhão de dólares à delegados federais por parte do ex-presidente do Banespa Otávio Ceccato, para não ser criminalmente identificado (não tocar piano)!

  Georges P. Sellinas

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Este homem fez a denúncia de que policiais teriam recebido US$ l milhão para não indiciar Otávio Ceccato no inquérito que apura o 
escândalo no Banespa. Ele é especialista em varreduras e gravações sigilosas.   Seu nome é:  Georges P. Sellinas.
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Jornal da Tarde, 19 de Julho de 1988

Fiel Transcrição. Fotos excluídas:

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Política - CORRUPÇÃO

Ele vive em meio de "grampos" e gravadores ocultos. É Georges Sellinas, dono de uma empresa de inteligência, que denunciou o caso de corrupção na Polícia Federal e suborno no inquérito do Banespa.

O homem que descobriu o escândalo.

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FAUSTO MACEDO

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É nos fundos da casa de paredes brancas e portas gradeadas que fica o escritório da Secretel, Serviço de Inteligência Ltda. Uma dependência de dois andares. No térreo, ficam a secretária, o boy, telefones e duas máquinas de telex. Sobe-se uma escada e chega-se, então, ao reduto do senhor Georges Panayote Sellinas, um grego nascido há 62 anos, que chegou ao Brasil em 1953. Na sala retangular destacam-se a ampla mesa de vidro e os quadros (reportagens e documentos sobre espionagem), que forram as paredes. Sólidas barras de ferro protegem a janela e a cortina nunca se abre.

Ali chegam e saem informações que podem significar um elementar caso de escuta telefônica, ou uma história de espionagem industrial, ou, ainda, mais um rumoroso escândalo de corrupção na administração pública. Há dois meses, um empresário do setor de confecções denunciou fiscais da Fazenda do Estado. Os fiscais — José Carlos Martinelli e Rubens Rodrigues — queriam extorqui-lo em Cz$ 10 milhões. E Georges Sellinas entrou em ação — gravou as negociações entre o empresário e o advogado ligado aos fiscais, promoveu reuniões, fez-se passar por representante da vítima. Hoje, os fiscais estão denunciados criminalmente.

No final de junho, Georges Sellinas procurou o superintendente regional da Polícia Federal, delegado Marco Antônio Veronezzi. Os dois conversaram longamente e desse encontro emergiu o escândalo de um milhão de dólares, dinheiro que teria sido oferecido ao delegado Francisco Pereira Munhoz, presidente do inquérito Banespa, para que a situação de Otávio Ceccato, ex-presidente do banco, fosse aliviada.

Foi Georges Sellinas quem informou a Veronezzi sobre boatos que estavam circulando na Assembléia Legislativaboatos de corrupção na PF no caso Banespa. Veronezzi quis saber de onde partiam esses "boatos". Georges Sellinas cuidou, então, de reunir Veronezzi e Francisco de Assis Sampaio de Freitas — assessor técnico da Assembléia Legislativa — em seu escritório, a casa branca do número 228 da rua Professor Gustavo Pires de Andrade, em Vila Prudente. Foi na última quarta-feira de junho que os três se encontraram. No dia 4 de julho, Veronezzi chamou em seu gabinete o delegado Francisco Pereira Munhoz, que admitiu que recebera uma oferta dos delegados José Benedito de Oliveira e Souza e Joaquim Trolezzi Veiga. No dia seguinte, Veronezzi mandou abrir inquérito para apurar a corrupção.

Ontem de manhã, Georges Sellinas e Francisco de Assis prestaram depoimentos na sede da PF: "Fiz isso, revelei o que estava acontecendo, com o intuito de servir à sociedade", conta Georges Sellinas. "Em 16 de junho, tomei conhecimento, conversando com o meu amigo Francisco de Assis, que havia rumores de corrupção dentro da PF, com relação à 'facilitação' e ao não indiciamento de Otávio Ceccato. Segundo Francisco me disse, o dinheiro foi pago em duas parcelas. A primeira, de 700 mil dólares, paga antes do depoimento de Ceccato. Os outros 300 mil dólares, pagos uma semana após o depoimento de Ceccato. No dia 21, falei sobre isso com o Dr. Veronezzi. No dia 30, às 19 horas o Dr. Veronezzi foi ao meu escritório, onde conversamos com o Francisco de Assis. O Dr. Veronezzi declarou-se conhecedor da denúncia e inclusive mencionou o nome do delegado Adilson Calamante (acusado em outro caso de corrupção) como portador do 

'boato do suborno de um milhão de dólares'."

Ontem a tarde, Georges Sellinas recebeu o JT em seu escritório.

Formado em engenharia industrial na Grécia, Georges chegou ao Brasil em 1953 e foi trabalhar como diretor-técnico da General Motors. Mas a sua paixão é mesmo o mundo da informação. Fez muitos cursos no Exterior sobre a espionagem e os seus caminhos intrigantes. Há quase duas décadas atua neste ramo mas "sempre do outro lado, fazendo a contra-espionagem". Primeiro, montou a Ibranovi do Brasil Telecomunicações. Há oito anos abriu a Secretel, Serviço de Inteligência Ltda.

Dizem que Georges Sellinas é um informante dos órgãos de segurança e que nos tempos da repressão violenta teve atuação direta. Ele diz que não é bem assim. "Não sou informante, mas sou um colaborador eterno, estou sempre colaborando, tenho muitos amigos na polícia, sou amigo do Romeu Tuma e do Veronezzi há anos. Sou de direita, mas não tenho ligações políticas."

"Do Veronezzi sou amigo até demais", afirma Georges. "O Chico (Francisco de Assis, da Assembléia), eu conheço há muito tempo, é homem íntegro, patriota, nacionalista, sincero e muito honesto. O Tuma? Bem, eu propiciei ao Tuma a descoberta da corrupção no INAMPS, eu consegui detectar os grampos nos telefones do Orestes Quêrcia, do Thomaz Camanho Neto e do Adilson Gomes. O Milton Mello Milréu grampeou os telefones dessa turma para saber quem seria o novo presidente do INAMPS, em 1983. Eu descobri que era o Valdeci Moraes de Jesus, da agência Mercúrio, quem estava censurando as ligações. O Oliveira (um dos delegados acusados no escândalo de um milhão de dólares)? Eu o conheço muito bem, é sujeito decente, honesto, nunca ouvi que tenha participado de qualquer extorsão."

— Aqui não se vende nada, não fornecemos nenhum material a nenhuma empresa — garante Georges. "Fazemos serviços para os setores da segurança e firmas particulares. Muitas vezes agimos com policiais e agentes. Até agente do SNI (Serviço Nacional de Informação) já trabalhou conosco. Uma vez, empreguei aqui o Leônidas Tonico da Silva, era capitão-fuzileiro naval, fez curso no SNI e foi do Cenimar (Centro de Informação da Marinha). Pois um dia descobri que ele estava vendendo nossas informações aos inimigos. Falei com o Tuma e o sujeito foi levado para o Rio. Nada aqui é ficção. Veja estas pastas de executivo. São equipamentos instalados para gravação ambiente. Este painel aqui na parede: são aparelhos, pequenas peças, gravadores ultra-sensíveis e minúsculos, muito usados na espionagem. Nós apreendemos tudo no nosso trabalho."

— Realmente foi o Georges Sellinas quem me procurou para falar dos comentários sobre o caso Ceccato —confirmou, ontem à noite, o delegado Veronezzi.

No inquérito que Veronezzi mandou abrir para investigar a história da corrupção, dez delegados já foram ouvidos. Adilson Calamante, um dos delegados, trabalha no plantão da PF — está no posto há um mês, desde que o seu nome despontou como um dos implicados numa história de extorsão de Cz$ 1,5 milhão contra o dono de uma empresa de segurança. Adilson Calamante está sendo apontado, agora, como o autor dos "boatos da corrupção". Ele já depôs e negou tudo. Mas talvez ainda hoje será feita acareação entre Calamante e Francisco de Assis, o funcionário da Assembléia Legislativa.

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