O Estado de São Paulo, 11 de junho de 1993
Fiel Transcrição:
POLÍCIA FEDERAL
Quatro anos
depois, Sellinas quer voltar

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Ex-colaborador que
irritou cúpula da PF com denúncias sem provas vive hoje na Grécia. |
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"Exílio forçado"
Sellinas: vivendo na Grécia em precárias condições financeiras e de saúde,
segundo sua filha Urânia. |
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LUIZ MAKLOUF CARVALHO
Foto: Mônica
Varella/AE-21/8/88
Foragido do Brasil desde 1989 quando foi
condenado a quatro anos e oito meses de prisão por crime de calúnia contra o juiz
federal João Carlos da Rocha Matos o engenheiro grego Georges
Panayote Sellinas
quer voltar ao Brasil. A primeira providência para isso, um pedido de habeas-corpus com
anulação de sentença, deu entrada no Tribunal Regional Federal (TRF) no dia 26.
"Sellinas está com sérios problemas de saúde
e precisa voltar ao Brasil para ficar perto de sua família", disse seu advogado,
Roberto Podval, que decidiu patrocinar a causa depois de um apelo da filha do engenheiro,
Urânia. "O habeas-corpus lhe dará segurança para o regresso." Sellinas foi
condenado em primeira instância pelo juiz Sinval Antunes de Souza, hoje integrante do
TRF, por ter caluniado Rocha Mattos em denúncias de corrupção.
Irregularidades
"A sentença foi injusta e o processo está cheio de nulidades",
argumentou o advogado. Uma delas, segundo ele, é que o próprio Rocha Mattos atuou como
assistente de acusação. Podval quer que o TRF anule a sentença, para que Sellinas,
naturalizado brasileiro, possa voltar em paz.
"É o mínimo que o meu pai merece", disse
Urânia, acrescentando que Sellinas, de 66 anos, está vivendo na Grécia em precárias
condições financeiras e de saúde. Foi atropelado recentemente. Urânia e os dois outros
filhos, Dionyssios e Georges, moram no Brasil com a mãe, Dora, que no momento está na
Grécia com o marido.
Sellinas era dono de uma empresa especializada em
espionagem industrial e política e é um dos personagens mais
polémicos da crônica policial recente de São Paulo. |
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Ele
tornou-se famoso em 1988, durante o escândalo da compra
fraudulenta de Apólices do Tesouro Municipal (ATMs) pelo Banespa. Na época, acusou o
então presidente do banco, Otávio Ceccato, de ter oferecido US$ 1 milhão a delegados federais para que o poupassem. Desde então, ele fez uma série de denúncias contra Rocha
Mattos, a cúpula da Policia Federal (Romeu Tuma e Marco Antônio Veronezzi,
especialmente) e outras autoridades. Antes disso, Sellinas era colaborador da PF. Os três
acusados o processaram diversas vezes por calúnia, e o têm, hoje, na conta de um
"débil mental".
Cartas Nos
quatro anos de "exílio forçado" é esse o termo que prefere
Sellinas continuou a insistir nas denúncias. Enviou cartas enormes e frequentes a todos
os ministros da Justiça, inclusive os do governo Collor. Nessas cartas, também enviadas
a dezenas de outras autoridades, ele continuou centrando fogo em
Rocha Mattos, Tuma e Veronezzi.
Recentemente procurou a deputada federal Cidinha Campos
(PDT-RJ), enviou-lhe uma extensa papelada, e insistiu em que fosse instaurada uma CPI, mas
a ideia não foi adiante. O pedido de habeas-corpus de seu advogado é um problema para o
TRF. Nas cartas, Sellinas dedicou parágrafos inteiros para atacar sem provas, como
é do seu estilo a honra de boa parte dos Juízes.
O lado irónico é que o juiz Sinval
Antunes, que o condenou, entrou no TRF em uma vaga que poderia ter sido de Rocha Mattos,
afastado das funções de juiz federal pelo próprio TRF no final do ano passado, por ter
ameaçado o juiz Homar Cais, então presidente do tribunal. "O meu pai pode não ter
provas de tudo, mas em muita coisa ele acertou", diz Urânia. Ela garante que a
intenção de Sellinas, se conseguir voltar ao Brasil, é descansar em paz. |
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