Jornal da Tarde, 01 de Julho de 1992

Fiel Transcrição:

.

TRÁFICO:

TUMA JR. DEVE DEPOR

Gravação de Morbach sofrerá sindicância

.

Morbach1.JPG (3073 bytes)

Veronezzi, Romeu Tuma Jr. e o delegado federal Marcus Deneno garfaram US$ 2 milhões
.

A Procuradoria da República vai requisitar á Policia Federal que seja tomado o depoimento do delegado Romeu Tuma Júnior, filho do secretário nacional da PF, Romeu Tuma, e chefe do Escritório Regional da INTERPOL em São Paulo. Tuma Júnior teria participado do episódio em que o empresário Augusto Morbach Neto fez longo depoimento gravado, na manhã de 22 de novembro, na sede paulista da PF. Na gravação, Morbach — que acabara de ser autuado em flagrante na posse de US$ 4 milhões — apontou supostas ligações em operações criminosas de diversas autoridades, algumas delas ocupando cargos de expressão no governo federal.

Além de Tuma Júnior, os delegados Antônio Manuel Costa e Marcus Vinícius Deneno também serão ouvidos porque participaram do interrogatório informal de Morbach. A Procuradoria da República quer investigar porque Morbach fez novo depoimento fora do auto de prisão em flagrante. Uma vez autuado, ele já era considerado, tecnicamente, "preso à disposição da Justiça" e não  poderia ser ouvido.

novamente.

A Procuradoria quer saber ainda por que a fita com o depoimento exclusivo de Morbach

não foi juntada ao inquérito que apurava suas ligações com traficantes de cocaína, "Não participei da gravação e nem ouvi o depoimento de Augusto Morbach", garante o delegado Romeu Tuma Júnior.

Acusado de ser um dos responsáveis pela lavagem dos dólares do empresário Paulo César Farias e de integrar a conexão do narcotráfico chefiada por Augusto Morbach, o ex-secretário particular de Cláudio Vieira, Fábio Monteiro, disse ontem, por intermédio de um amigo, em Maceió, onde está escondido, que tem um "passado limpo".

Monteiro negou todas as acusações levantas contra ele pela Polícia Federal de São Paulo e disse que, quando aparecer em público, vai assinar uma "procuração" autorizando quem quer que seja a investigar sua vida. Segundo revelou a amigos, sua boa condição financeira é fruto de um "trabalho duro", durante dois anos, em uma grande empreiteira do país, mas não especificou qual.

Embora a Policia tenha chegado à conclusão do envolvimento de Monteiro no narcotráfico, sua família se recusa a acreditar nessa hipótese. O pai adotivo, o cardiologista Hélio Ferreira de Araújo, é o presidente da comissão estadual contra o uso de drogas.

.

Folha de São Paulo, 02 de Agosto de 1993

Fiel Transcrição:

.

TRÁFICO:

Morbach é interrogado hoje

Augusto Morbach Neto, acusado de tráfico de drogas.

.

Morbach2.JPG (2586 bytes)

Morbach gravou um depoimento na PF (Polícia Federal). Ele afirmou que parte do dinheiro apreendido era do esquema PC e que outra parte pertencia a Fábio Monteiro, na época assessor da Presidência da República. Disse ainda que Leopoldo Collor, irmão do ex-presidente Fernando Collor, era o responsável pelo mercado paralelo do dólar em São Paulo.
.

Da Reportagem Local

O empresário Augusto Morbach Neto será interrogado hoje, às 14h00', na 4ª Vara da Justiça Federal em São Paulo. Ele responde a processo sob a acusação de formação de quadrilha para o tráfico internacional de drogas. Em novembro de 1991, Morbach foi preso com US$ 4 milhões. Antes de ser preso, Morbach encontrou-se com os colombianos José Paiou e Diego Gutierrez, acusados de pertencerem ao cartel de Cali.

Quando foi preso, Morbach gravou um depoimento na PF (Polícia Federal). Ele afirmou que parte do

dinheiro apreendido era do esquema PC e que outra parte pertencia a Fábio Monteiro, na época assessor da Presidência da República. Disse ainda que Leopoldo Collor, irmão do ex-presidente Fernando Collor, era o responsável pelo mercado paralelo do dólar em São Paulo.

Depois de solto, Morbach recusou-se a confirmar o depoimento gravado na PF. "Só falarei sobre isso na Justiça", afirmou à Folha em julho de 1992. Hoje, o empresário será interrogado na Justiça e deverá responder quais são de fato suas relações com o esquema PC, com Fábio Monteiro e com Leopoldo Collor.

.

Folha de São Paulo, 03 de Agosto de 1993

Fiel Transcrição:

.

TRÁFICO:

Empresário afirma ter sido coagido pela PF

.

Morbach3.JPG (3266 bytes)

"Fui coagido a dizer o que foi gravado. O Veronezzi me chamou em sua sala e fez um roteiro das respostas que deveriam ser dadas", disse Morbach ao juiz Cassem Mazioun. "Os delegados Costa (Antônio Manoel Costa) e Deneno (Marcus Vinícius Deneno) faziam as perguntas enquanto Veronezzi entrava e saia da sala"
.

Da Reportagem Local

O empresário Augusto Morbach Neto disse ontem na Justiça Federal que o ex-superintendente da Polícia Federal (PF) em São Paulo, Marco Antônio Veronezzi, o "coagiu" a prestar um depoimento em novembro de 1991. Na ocasião, Morbach foi preso em flagrante com cerca de SS$ 4 milhões e na PF gravou um depoimento onde afirmou, entre outras coisas, que parte do dinheiro pertencia a Fábio Monteiro (ex-assessor da Presidência da República) e que Leopoldo Collor —irmão do ex-presidente Fernando Collor— era o responsável pelo mercado paralelo do dólar em São Paulo.

"Fui coagido a dizer o que foi gravado. O Veronezzi me chamou em sua sala e fez um roteiro das respostas que deveriam ser dadas", disse Morbach ao juiz Cassem Mazioun. "Os delegados Costa (Antônio Manoel Costa) e Deneno (Marcus Vinícius Deneno) faziam as perguntas enquanto Veronezzi entrava e saia da sala", afirmou.

Ontem no final da tarde, a Folha não encontrou os delegados na 

sede da PF em São Paulo. Morbach é acusado de formação de quadrilha para o tráfico internacional de drogas. Ontem ele negou ter praticado os crimes. Afirmou que nunca fez tráfico e nem organizou quadrilhas. O empresário disse ao juiz que os US$ 4 milhões apreendidos pertencem a ele e foram obtidos pela intermediação de vendas de "tecnologia e material bélico para o Ira, Israel, Iraque e outros países".

Morbach afirmou que desde 1985 trabalha para uma empresa de consultoria na Alemanha chamada Tecnikon Alianzza e que os US$ 4 milhões foram obtidos por intermédio de comissões recebidas
dessa empresa. Contudo, declarou ao juiz que em 1985 não sabia sequer falar alemão.

Quanto aos colombiano Diego Gutierrez e José Palou —acusados de pertencer ao cartel de Cali e que estiveram com Morbach hospedados no Maksoud Plaza Hotel, em São Paulo—, o empresário afirmou que os conhece por causa de um negócio que seria feito. "Eles queriam comprar uma área na fronteira do Brasil com a Venezuela para despejar lixo industrial da França", disse.

.

Jornal da Tarde, 19 de Novembro de 1992

Fiel Transcrição:

.

OS DÓLARES DE MORBACH

Uma reunião 'informal'

DELEGADO ENCONTRA ADVOGADO

.

Morbach4.JPG (2346 bytes)

Veronezzi, Romeu Tuma Jr. e o delegado Marcus Deneno se apropriaram de US$ 2 milhões do total de dólares apreendidos depois de sua prisão em 1991. A PF diz que foram só US$ 4 milhões. Morbach fala em US$ 6 milhões.

Tuma Jr. o investigou quando era chefe da Interpol em São Paulo. E Deneno gravou depoimento dele.

.

Luiz Maklouf Carvalho

O delegado federal Marco Antônio Veronezzi, recentemente afastado da superintendência da PF em São Paulo, reuniu-se informalmente com Waldir Sinigaglia, advogado do empresário Augusto Morbach Neto, durante inquérito sobre ligações dele com o tráfico internacional de cocaína. Veronezzi contou, no dia 16 de outubro, sobre a reunião ao delegado Messias Marques, que apura a acusação de Morbach — publicada na revista Exame e em O Globo, segundo a qual, Veronezzi, Romeu Tuma Jr. e o delegado Marcus Deneno se apropriaram de US$ 2 milhões do total de dólares apreendidos depois de sua prisão em 1991. A PF diz que foram só US$ 4 milhões. Morbach fala em US$ 6 milhões. Os acusados estão processando Morbach por calúnia. Tuma Jr. o investigou quando era chefe da Interpol em São Paulo. E Deneno gravou depoimento dele.

A reunião foi em julho. Veronezzi contou que o convite foi de Sinigaglia.

Ele, o advogado, o delegado Jair Barbosa Martins e "um outro indivíduo" foram ao Hotel São Paulo Center. Sinigaglia reclamou do inquérito, disse que Morbach provaria a existência dos US$ 6 milhões e mostrou preocupação com o possível envolvimento de Tuma Jr. Sinigaglia nega a reunião.

Veronezzi intrometeu-se no caso quando mandou dois delegados de sua confiança — Antônio Manoel Costa e Marcos Deneno gravarem declarações do empresário, um dia depois da prisão. Morbach diz que foi pressionado a falar. A fita tem acusações a Fábio Monteiro, ex-assessor de Cláudio Vieira, Paulo César Farias e Leopoldo Collor. Veronezzi entregou informalmente e fora dos autos, cópia ao juiz federal João Carlos da Rocha Mattos. Em seu relatório. Marques diz o seguinte sobre os US$ 2 milhões:

"Se houve desaparecimento ocorreu no trajeto até a Superintendência, onde se fez a apreensão e o auto de prisão."

.

O Estado de São Paulo, 19 de Novembro de 1992

Fiel Transcrição:

.

POLÍCIA:

Ex-superintendente da PF é acusado pelo traficante de participar do desvio de US$ 2 milhões

.

MorbachVeronezzi.JPG (11061 bytes)

Veronezzi esteve com advogado de Morbach
.

Luiz Maklouf de Carvalho

O delegado federal Marco Antônio Veronezzi, recentemente afastado da superintendência regional da Polícia Federal em São Paulo, reuniu-se informalmente, em um hotel da Capital, com o advogado do empresário Augusto Morbach Neto, em pleno andamento do inquérito que apura as ligações de Morbach com o tráfico internacional de cocaína. O próprio Veronezzi falou sobre a reunião com o advogado Valdir Sinigaglia em depoimento ao delegado federal Messias Marques, no dia 16 de outubro.

Marques está apurando uma acusação delicada de Morbach —: publicada pela revista Exame e pelo jornal O Globo. Segundo ele, Veronezzi, Romeu Tuma Jr. e o delegado federal Marcus Deneno garfaram US$ 2 milhões do total de dólares apreendidos depois da prisão do empresário, em novembro do ano passado. A PF diz que apreendeu US$ 4 milhões, mas Morbach falou em US$ 6 milhões. Os três acusados estão processando Morbach por calúnia. Romeu Tuma Jr. iniciou a investigação sobre as atividades de Morbach quando ainda chefiava o escritório da INTERPOL em São Paulo. Ele diz que recebeu uma "denúncia anônima" e participou da prisão do empresário-garimpeiro. Afastou-se recentemente da Interpol sem grandes explicações. Deneno — que nada tinha a ver com o caso — foi chamado por Veronezzi para gravar um depoimento de Morbach.

A reunião entre Veronezzi e Sinigaglia aconteceu em julho — quando o delegado ainda estava na superintendência e era, portanto, o responsável maior pelo andamento do Inquérito. Ele contou — como se fosse uma coisa perfeitamente normal — que recebeu um telefonema de Sinigaglia convidando-o para uma conversa "em particular e fora da superintendência". Veronezzi afirma que desceu no gabinete às 20h30', encontrou o advogado, o delegado federal Jair Barbosa Martins e "um outro indivíduo". Os quatro foram até o Hotel São Paulo Center. Ali, segundo Veronezzi, Sinigaglia reclamou

da condução do inquérito pelo delegado Roberto Precioso Jr., afirmou que Morbach poderia provar a existência dos US$ 6 milhões e mostrou preocupação com o possível envolvimento de Tuma Jr.

Veronezzi considera "normal" seu encontro com o advogado de um suspeito de tráfico de drogas em pleno andamento do inquérito. Também acha. "normal" não saber quem era o "outro indivíduo", descrito no depoimento com as seguintes características: "óculos de grau, calvo, estatura mediana, aparentando ter 45 anos de idade e de cor branca". Ele também não explicou por que Martins envolveu-se com o caso, já que ele está deixando a PF, por causa de envolvimento num caso de extorsão. Sinigaglia negou a existência da reunião.

O ex-superintendente intrometeu-se diretamente no caso Morbach quando mandou dois outros delegados de sua confiança — Antônio Manoel Costa e Marcos Vinícius Deneno, recentemente condenados por peculato — gravarem declarações do empresário durante o horário de almoço, um dia depois da prisão. Veronezzi diz que ordenou a gravação porque Morbach queria falar. Morbach diz que foi pressionado e que o interrogatório seguiu uma pauta prévia de perguntas. A fita contém acusações graves contra Fábio Monteiro, ex-assessor de Cláudio Vieira, secretário particular do presidente afastado, Fernando Collor.

Veronezzi mandou entregar — em mãos, informalmente e por fora dos autos — uma cópia da fita para o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos. Na ocasião o juiz estava de férias. Ele reteve a fita por quase cinco meses — e só a devolveu aos autos do inquérito por determinação do juiz-corregedor, Américo Lacombe. Veronezzi informou que enviou a fita porque Rocha Mattos a pediu. Ele também considerou "normal" o fato de a entrega ter sido feita informalmente. Morbach ainda não explicou a diferença de US$ 2 milhões e só pretende falar em juízo. Anualmente ele está no Pará, onde nasceu, respondendo ao Inquérito em liberdade provisória.

.

Jornal da Tarde, 22 de Fevereiro de 1994

Fiel Transcrição:

.

MorbachMattos.JPG (2437 bytes)

Juiz Rocha Mattos deverá ser processado

.

     A Corregedoria-Geral do Tribunal Regional Federal deve abrir processo administrativo contra o juiz João Carlos da Rocha Mattos. Segundo a Procuradoria da República, que pediu o processo, ele ficou com a fita do depoimento à PF em que o empresário Augusto Morbach Neto acusa integrantes do governo federal de participar na remessa de dólares ao Exterior. Morbach foi preso no aeroporto de Congonhas com US$ 4 milhões, em 1992. A Procuradoria quer saber por que a PF entregou a fita ao juiz e por que ele não a juntou ao inquérito. Rocha Mattos é o juiz que beneficiou o ex-governador Orestes Quêrcia nos inquéritos sobre a privatização da Vasp e sobre o caso Israel.

.

Jornal da Tarde: 22 de Fevereiro de 1994

Fiel Transcrição

.

JUIZ SOB SUSPEITA

TRF deve investigar conduta de Rocha Mattos

.

Curriculo1.JPG (5108 bytes)

Tribunal Regional Federal (TRF) deverá abrir processo administrativo para investigar conduta supostamente irregular do juiz João Carlos da Rocha Mattos no episódio que resultou na prisão do empresário Augusto Morbach Neto.

Em seu depoimento á PF, Morbach teria acusado ministros e outras autoridades do governo federal de participar do esquema de remessa ilegal de dólares para o exterior.

.

Fausto Macedo

A Corregedoria Geral do Tribunal Regional Federal (TRF) deverá abrir processo administrativo para investigar conduta supostamente irregular do juiz João Carlos da Rocha Mattos no episódio que resultou na prisão do empresário Augusto Morbach Neto. Em novembro de 1992, Morbach foi preso em flagrante por agentes da Policia Federal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com US$ 4 milhões. Em seu depoimento á PF, Morbach teria acusado ministros e outras autoridades do governo federal de participar do esquema de remessa ilegal de dólares para o exterior. Rocha Mattos recebeu a fita com as revelações do empresário, mas não tomou qualquer providência, segundo acusa a Procuradoria da República. "O juiz ficou de posse da fita e não juntou-a aos autos", denuncia um Procurador.

Rocha Mattos é o juiz que em 1992 livrou o ex-governador Orestes Quêrcia de enquadramento criminal no inquérito que apura a privatização da VASP. Quêrcia havia sido indiciado pelo delegado José Orzomarzo Neto, sob acusação de infringir a Lei do  Colarinho 

Branco, no capitulo que trata dos crimes contra o sistema financeiro. Ele também tentou beneficiar o ex-governador Orestes Quêrcia no inquérito que apura a compra supostamente irregular de equipamentos de Israel, no valor de US$ 310 milhões, enviando os autos da PF ao Tribunal de Justiça de São Paulo, sob o argumento de que poderia haver apenas o envolvimento de assessores nas importações.

A nova solicitação de investigação contra Rocha Mattos foi apresentada pelos procuradores da República Francisco Teixeira, Mário Bonsaglia, Marcelo Moscogliato e Juíza Cristina Fonseca, que pediram a condenação de Morbach por tráfico internacional de tóxicos. A Procuradoria quer saber por que a PF encaminhou a fita com o depoimento de Morbach para Rocha Mattos, que estava em férias, e por que a fita jamais foi juntada ao inquérito. Ao ser ouvido em juízo, Morbach afirmou ter sido pressionado por delegados da PF a ler um documento com os nomes de ministros e outras pessoas ligadas à administração pública que estariam implicadas na evasão de divisas.