Folha de São Paulo, 03 de Agosto de 1993

Fiel Transcrição:

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TRÁFICO

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Empresário afirma ter sido coagido pela PF

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Da Reportagem Local

O empresário Augusto Morbach Neto disse ontem na Justiça Federal que o ex-superintendente da Polícia Federal (PF) em São Paulo, Marco Antônio Veronezzi, o "coagiu" a prestar um depoimento em novembro de 1991. Na ocasião, Morbach foi preso em flagrante com cerca de SS$ 4 milhões e na PF gravou um depoimento onde afirmou, entre outras coisas, que parte do dinheiro pertencia a Fábio Monteiro (ex-assessor da Presidência da República) e que Leopoldo Collor —irmão do ex-presidente Fernando Collor— era o responsável pelo mercado paralelo do dólar em São Paulo.

"Fui coagido a dizer o que foi gravado. O Veronezzi me chamou em sua sala e fez um roteiro das respostas que deveriam ser dadas", disse Morbach ao juiz Cassem Mazioun. "Os delegados Costa (Antônio Manoel Costa) e Deneno (Marcus Vinícius Deneno) faziam as perguntas enquanto Veronezzi entrava e saia da sala", afirmou.

Ontem no final da tarde, a Folha não encontrou os delegados na sede da PF em São Paulo.

Morbach é acusado de formação de quadrilha para o tráfico internacional de drogas. Ontem ele negou ter praticado os crimes. Afirmou que nunca fez tráfico e nem organizou quadrilhas. O empresário disse ao juiz que os US$ 4 milhões apreendidos pertencem a ele e foram obtidos pela intermediação de vendas de "tecnologia e material bélico para o Ira, Israel, Iraque e outros países".

Morbach afirmou que desde 1985 trabalha para uma empresa de consultoria na Alemanha chamada Tecnikon Alianzza e que os US$ 4 milhões foram obtidos por intermédio de comissões recebidas
dessa empresa. Contudo, declarou ao juiz que em 1985 não sabia sequer falar alemão.

Quanto aos colombiano Diego Gutierrez e José Palou —acusados de pertencer ao cartel de Cali e que estiveram com Morbach hospedados no Maksoud Plaza Hotel, em São Paulo—, o empresário afirmou que os conhece por causa de um negócio que seria feito. "Eles queriam comprar uma área na fronteira do Brasil com a Venezuela para despejar lixo industrial da França", disse.

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