Folha de São Paulo, 18 de Maio de
1994
Fiel Transcrição:
Relatório
da CPI acusa Collor. Santana e Tuma

|
|
Segundo a CPI
ex-ministros e secretários do governo Collor, como Antônio Rogério Magri (Previdência
Social), João Santana (infra-estrutura) e o delegado Romeu Tuma (diretor-geral da
Polícia Federal). também teriam contribuído ativamente para o rombo no INSS. |
|
|
Daniela Pinheiro -
Da Sucursal de Brasília
O relatório final da CPI da
Previdência afirma que o ex-presidente Fernando Collor de Mello facilitou a corrupção
no INSS. O texto deve ser votado na quinta-feira.
Segundo o relatório, ao colocar em disponibilidade
cerca de 3.500 fiscais da Previdência em 1990, Collor possibilitou as irregularidades.
Segundo a CPI ex-ministros e
secretários do governo Collor, como Antônio Rogério Magri (Previdência Social), João
Santana (infra-estrutura) e o delegado Romeu Tuma (diretor-geral da Polícia Federal). também teriam contribuído ativamente para o rombo no INSS.
O prejuízo estimado é de US$ 3 bilhões
em fraudes contra o INSS nos últimos cinco anos.
Com a demissão dos fiscais, autorizada por Magri a
pedido de Collor, o parcelamento das dívidas e empréstimos ficaram a cargo de técnicos
do Iapas (atual INSS).
O chefe da rede de corrupção
seria o argentino César Arrieta, acusado de receber propina para liquidar débitos de
empresas com a Previdência. Seus advogados negam a acusação. Arrieta teria
movimentado US$ 300 milhões em 91 e 92. À Receita ele declarou ter recebido menos de US$
24 mil.
Tuma foi considerado "membro
importante" do esquema Arrieta. Foram localizadas 213 ligações telefônicas entre
ele e Paulo Sawaya Filho (administrador das empresas de Arrieta em São |
|
Paulo).
O ex-ministro João Santana recebeu 18 ligações do
"esquema" segundo apurou a CPI. Seu elo com Arrieta
ultrapassava o dos negócios: seria padrinho da filha mais nova do argentino. Os
irmãos Nilson e Wilson Tavares, empregados de Arrieta, disseram ter presenciado Arrieta pagar diárias em hotéis para Tuma.
Falaram que Arrieta mostrava fotos do aniversário da
filha, em que Santana estava presente, e dizia que aquele seu grupo de amigos era uma espécie de "Cosa Nostra" (máfia
italiana).
Outro lado
A Assessoria do ex-presidente Fernando Collor
considera a acusação da CPI "um absurdo". A Assessoria disse que foi no
governo Collor que foram presos 18 juízes, acusados
de corrupção na CPI mista da Previdência de 1988.
Os fiscais teriam sido demitidos por uma comissão de
restruturação da Previdência, acusados de serem coniventes com a corrupção.
O deputado Robson Tuma (PL-SP). filho do
ex-diretor da PF e da Receita Romeu Tuma, disse que o seu pai "é amigo de Sawaya há
mais de 30 anos e esse é o motivo das ligações telefônicas".
O ex-ministro João Santana disse que não conhece
César Arrieta. Não é padrinho de sua filha e jamais esteve com qualquer membro do
"esquema da Previdência".
"É humilhante para min ter que responder
acusações levianas de uma ré confessa. Ela que tem que se
explicar sobre o dinheiro que recebeu do jogo do bicho", disse. |
|
Folha de são Paulo, 20
de Maio de 1994
Fiel Transcrição:
PREVIDÊNCIA:
CPI aprova
relatório sem nome de Tuma

|
|
Tuma era acusado no relatório
de colaborar com o esquema de corrupção no INSS à época de sua gestão como
secretário da Receita Federal e diretor da PF. |
|
|
Da
Sucursal de Brasília
A CPI da Previdência retirou de seu
relatório final, aprovado ontem pela maioria dos parlamentares da comissão, as
acusações contra o delegado Romeu Tuma, ex-diretor da Polícia Federal.
Os 12 integrantes da comissão menos
a relatora, deputada Cidinha Campos (PDT-RJ) exigiram a supressão do nome de Tuma
para que o relatório fosse aprovado.
Para o deputado Agostinho Valente (PT-MG), "Tuma não
foi chamado para se defender e só isso basta para não poder acusá-lo."
Tuma era acusado no relatório de colaborar
com o esquema de corrupção no INSS à época de sua gestão como secretário da Receita
Federal e diretor da PF.
Ele teria recebido 129 ligações telefônicas de
Paulo Sawaya Filho, sócio do argentino César Arrieta, considerado chefe da rede de
fraudes da Previdência.
Ex-empregados de Arrieta, os irmãos Nilson
e Wilson Tavares, disseram ter presenciado o chefe pagar hospedagem de Tuma no hotel
Mediterranée, em Salvador. O deputado Robson Tuma (PL-SP),
filho do delegado, disse que |
|
Sawaya é amigo da
família há mais de 30 anos. Afirmou que seu pai jamais esteve no hotel e desafiou a CPI
a apresentar o registro. Arrieta fraudava a Previdência com a ajuda de juízes, funcionários.
secretárias e procuradores do INSS. O relatório cita 470 pessoas e envolve 200 nas
irregularidades.
A fraude mais comum era apagar do arquivo dos
computadores da Dataprev (empresa de processamento de dados da Previdência) o nome dos
devedores do INSS. Em troca, exigia 80% do valor da dívida. O rombo na Previdência foi
estimado em US$ 3 bilhões.
O ex-presidente Fernando Collor foi citado no
relatório. Ele teria facilitado a ação do esquema ao demitir cerca de 3.500 fiscais em
1990. Collor nega as acusações.
As denúncias contra o ex-ministro da Infra-estrutura João
Santana foram mantidas. Teria recebido 18 ligações do esquema Arrieta e seria padrinho
da filha do argentino. Santana disse que sequer conhece Arrieta e jamais esteve com ele.
O relatório deve ser entregue até o final da próxima
semana ao procurador-geral da República, Aristides Junqueira. |
|
|