Folha de São Paulo, 21 de Junho de 1992

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Tuma conhecia destino de desaparecidos
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ARQUIVO DO SNI

Documento do SNI mostra que secretário de PF sabia o paradeiro de pessoas mortas pelos órgãos de repressão.

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MÁRIO SIMAS FILHO

Da Reportagem Local

Um documento reservado do extinto Deops prova que o secretário de Polícia Federal, Romeu Tuma, e o ex-SNI (Serviço Nacional de Informações) conheciam o paradeiro de pelo menos seis ex-militantes de esquerda considerados desaparecidos políticos.

As famílias de Flávio Carvalho Molina, Jane Vanini Capozzi, Luiz Eurico Tejera Lisboa, Marcio Baeck Machado, Maria Augusta Thomas e Ruy Carlos Vieira Berbert passaram boa parte das décadas de 70 e 80 procurando informações sobre eles. Os órgãos de repressão sempre negaram conhecer seu destino.

De 1971 a 1979, a família de Flávio de Carvalho Molina, ex-militante do Molipo (Movimento de Libertação Popular) tentou encontrá-lo. Ele foi preso em 6 de novembro de 1971 pelo Doi-Codi de São Paulo e companheiros de prisão diziam que ele fora torturado até a morte. Essa versão sempre foi negada e Molina respondeu

processo à revelia. Em 1979 sua família descobriu que ele fora enterrado com o nome de Álvaro Lopes Peralta, três dias depois de sua prisão, no cemitério Dom Bosco,. em Perus.

Protocolado sob o n.º 5.999, o documento do SNI —que foi entregue a Romeu Tuma, então diretor do Deops em São Paulo, em 5 de novembro de 78— afirma que Molina "tinha

curso de guerrilha e foi morto no Brasil em 1971".

Jane Vanini Capozzi até hoje figura como desaparecido político. Na relação do SNI, ela é citada como "terrorista", morta no Chile em 1973.

O casal Marcio Beck Machado e Maria Augusta Thomas, do Molipo, também até hoje é considerado desaparecido. Ambos foram mortos na guerrilha. Os agentes do Doi-Codi paulista negavam o combate. O documento afirma que eles tinham "curso de guerrilha e foram mortos no dia 16 de maio de 1973 em Rio Verde''.

Ruy Carlos Vieira Berbert, também do Molipo, por mais de 20 anos foi considerado desaparecido.

Preso em 71, sua detenção nunca foi comunicada aos familiares. Os ossos de Berbert foram encontrados em uma vala clandestina de um cemitério em Natividade (TO), em março deste ano. O relatório informa: "Suicidou-se na delegacia de Natividade em janeiro de 1972".

Preso em setembro de 1972, o ex-militante da Ação Libertadora
Nacional Luiz Eurico Tejera Lisboa só foi encontrado por seus familiares sete anos depois, enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco com o nome de Nelson Bueno. Sua família sempre foi informada de que Luiz nunca esteve preso. Na relação do SNI, ele é citado com o nome verdadeiro: "Tem curso de guerrilha e morreu em setembro de 1972".

'Não me recordo', diz Tuma

Da Reportagem Local

O secretário de Polícia Federal, delegado Romeu Tuma, procurado pela Folha, disse desconhecer o documento entregue a ele pelo extinto SNI, em 1978. Na época, Tuma era o diretor do Deops em São Paulo. "Não me recordo do documento, embora não possa negar tê-lo recebido", disse Tuma. O delegado afirmou que está disposto a ajudar as famílias dos desaparecidos políticos "no que for preciso":

"Preservei esses arquivos por muitos anos e nada tenho a esconder sobre eles".

O advogado Tales Castelo Branco entende que Tuma cometeu crime de prevaricação ao não mandar investigar as circunstâncias em que ocorreram as mortes relacionadas no documento: "Por ter sido procurado pelas famílias dessas vítima, Tuma sabia que as mortes não teriam ocorrido em circunstâncias naturais. Portanto, era seu dever investigá-las''.

Familiares criticam governo

Da Reportagem Local

Familiares de desaparecidos costumam definir os anos 70 e 80 como um período de "imensa peregrinação pelos organismos da repressão". "Só depois da anistia começaram a surgir algumas das pessoas que procurávamos, mas, até hoje, a busca não se encerrou", disse Ivan Seixas, da Comissão dos Familiares de Desaparecidos Políticos de São Paulo. A mãe de Flávio Molina, Maria Helena Molina, 

cansou de percorrer a rota Rio/São Paulo: "Tínhamos certeza de que o Flávio fora preso e assassinado em São Paulo. Sabíamos que algo de ruim tinha acontecido, mas, como as autoridades sempre negaram a prisão, mantínhamos uma ponta de esperança", disse. Segundo ela, o documento que o delegado Romeu Tuma recebeu em 1978 "mostra que eles mentiam. Sabiam que tinham feito algo terrível". 

 (MSF)

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Folha de São Paulo, 04 de Outubro de 1994

Petistas vaiam candidato do PL

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Da Reportagem Local

O candidato ao senado pelo PL de São Paulo, Romeu Tuma, foi vaiado por militantes do PT e chamado de "assassino", ontem na avenida Paulista.

Tuma, que estava acompanhado de Barros Munhoz (candidato ao governo pelo PMDB) esperava a chegada do governador Luiz Antônio Fleury, que vota no Colégio Objetivo da Paulista.

Os militantes do PT tentaram cercá-los e começaram as vaias. Tuma se irritou: "ninguém vai me impedir de passar".

Ora os militantes petistas acusavam Tuma de assassino, ora gritavam em coro "aa, uu, o assassino do Carandiru".

Cabos eleitorais do PMDB foram chamados

para "proteger" Munhoz e Tuma.

Os simpatizantes do PMDB gritaram mais forte, os petistas desistiram das vaias e se afastaram pouco antes da chegada de Fleury.

O governador se juntou aos candidatos e foi até sua seção eleitoral sem problemas. "Eleição é isso mesmo", disse o governador.

O candidato ao Senado não respondeu as acusações. "Não tenho nada a falar sobre isso''.

Segundo ele, houve um engano por parte dos petistas. "Eu não tive participação alguma no episódio do Carandirú", afirmou.

Em 2 de outubro de 92, 111 presos amotinados no presídio do Carandirú (zona norte de São Paulo) foram mortos durante uma invasão da Polícia Militar.

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