Jornal da Tarde, 31 de Agosto de 1994
Fiel Transcrição:
Erundina acusa
Tuma de aliado da ditadura
Ex-ministra
denuncia, durante debate, que delegado omitiu informação sobre morte de quatro presos nos
anos 1970.

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"a
ex-ministra Luiza Erundina (PT) acusou o delegado Romeu Tuma (PL) de ter omitido
informação sobre a morte de ex-ativistas políticos apontados como desaparecidos,
assassinados pela repressão" |
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Tuma,
nervoso com Erundina, negou envolvimento com tortura e disse que era apenas profissional
do Dops. |
VASCONCELOS QUADROS
SÃO PAULO No primeiro debate entre os quatro
principais candidatos ao Senado por São Paulo, realizado anteontem à noite no Teatro das
Universidades Católicas (Tuca), a ex-ministra Luiza
Erundina (PT) acusou o delegado Romeu Tuma (PL) de ter omitido informação sobre a morte
de ex-ativistas políticos apontados como desaparecidos, assassinados pela repressão no
começo da década de 70.
"O senhor era analista de
informações do Deops, guardou a lista e não deu nenhuma satisfação aos familiares.
Deve à sociedade uma explicação sobre o destino
dos presos políticos desaparecidos", afirmou Erundina, dedo em riste, cara a cara,
sentada ao lado do ex-xerife da Policia Federal.
A ex-ministra explicou ainda que a relação de nomes
foi encontrada durante investigação desenvolvida pela Comissão de Familiares de Presos
Políticos Desaparecidos nos arquivos do extinto Departamento de Ordem Política e Social
(Deops) paulista com a inscrição retorno de exilados. Ao lado
dos quatro nomes Luiz Eurico Tejera Lisboa, da Ação Libertadora Nacional
(ALN);
Mário Beck Machado, Maria Augusta Tomaz e Ruy Berbert, do Movimento de Libertação
Popular (Molipo), todos eles opositores do regime militar constava a informação
de que estavam mortos.
Busca Durante vários anos, segundo
Erundina, as famílias buscaram informações junto aos órgãos públicos para tentar
descobrir o paradeiro dos ex-ativistas, mas funcionários dessas repartições e o governo
sempre negaram que tivessem informações. Sem conseguir esconder o nervosismo e em meio à ruidosa vaia dos estudantes, o xerife
tentou se explicar. "A ministra Luiza Erundina deve saber onde está a lista", |
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desconversou Tuma. Ele negou qualquer envolvimento com a tortura,
explicou que cumpriu funções profissionais tanto no Deops quanto na Policia Federal
onde foi superintendente e diretor-geral e sustentou ter sido o responsável
pela preservação do arquivo que, segundo afirmou, seria destruído na gestão do
ex-govemador André Franco Montoro. "A lista
nós temos. A comissão encontrou. Mas o senhor não revelou e ocultou as informações
sobre o destino de mortos de familiares
que se encontram aqui", disparou a ex-ministra. Depois de uma longa investigação, com auxilio dos legistas
da Universidade de Campinas (Unicamp) a partir de 1992, a comissão conseguiu identificar
Ruy Berbert, enterrado em Rio Verde de Goiás, e Luís Eurico Tejera Lisboa, numa vala
comum do cemitério de Perus, em São Paulo. Ambos
haviam sido enterrados com identidades falsas.
Defesa O delegado Romeu Tuma invocou o
testemunho do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, e do escritor
Fernando Morais para escapar da pecha de aliado de torturadores. Depois explicou que os
documentos do arquivo do DEOPS têm um fluxo normal sobre o qual assegura não ter tido
interferência. "Se eu quisesse esconder, teria destruído a lista. Ela estava lá
nos arquivos onde a ministra encontrou. A declaração dela não foi muito correta",
queixou-se o delegado.
"Isso não diminui a
responsabilidade dele, que sabia das mortes desde 1978 e não informou aos familiares.
Até hoje essas pessoas atendem o telefone com a esperança de que seu familiar esteja
vivo", disse Erundina. Ela afirmou que a
descoberta da lista deu-se por um cochilo da repressão, que
remexeu os arquivos do DEOPS para apagar pista que pudesse envolver torturadores ou
apontar o destino dos ativistas mortos. |
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A CONCLUSÃO: FICA
A CARGO DO LEITOR!
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