Folha da Tarde, 24 de Agosto de 1988

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Engenheiro diz ter "provas robustas"

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Vasconcelos Quadros
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O advogado Bension Coslovsky encaminhou ontem ao ministro da Justiça, Paulo Brossard, um telegrama informando que o engenheiro elelrônico Georges Sellinas — preso atualmente na Casa de Custódia da Polícia Federal, em São Paulo, por contrabando de equipamentos eletrônicos — possui "provas robustas" sobre o suborno de US$ l milhão no caso Banespa.

"Minha situação merece atenção das altas autoridades, pois o interesse é sufocar minha voz contra a corrupção em São Paulo envolvendo autoridades", diz Sellinas no telegrama que entregou em mãos a Coslovsky ontem no xadrez da Polícia Federal.

Segundo Coslovsky — que a partir de ontem entrou no caso como advogado de defesa de Sellinas — seu cliente possui fitas gravadas de conversas telefônicas envolvendo autoridades.

Coslovsky declarou que Sellinas lhe contou que as fitas estão escondidas em cofres de amigos, cujos nomes estão sendo mantidos em sigilo.

Na sexta-feira passada, Georges Sellinas — que é dono da empresa SECRETEL, especializada na área de equipamentos eletrônicos utilizados em espionagem e contra-espionagem — foi acareado na Polícia Federal. A acareação foi com Antônio Saito, um ex-agente da comunidade de Informações, no inquérito que apura casos de corrupção e tentativa de extorsão de delegados federais.

Durante a acareação, Saíto disse que Sellinas — seu antigo sócio — tinha equipamentos contrabandeados. A Polícia Federal deu uma busca na Secretel e apreendeu vários equipamentos eletrônicos. Mas levou também cerca de 40 fitas cassete com gravações, cujo teor não foi revelado.

O superintendente da Polícia Federal, Marco Antônio Veronezzi, disse que as fitas deverão ser transcritas e transformadas em laudos periciais. E que, se constatar a existência de gravações ou "grampos" feitos pela Secretel, Sellinas poderá ser indiciado em inquérito também por violação do sigilo nas comunicações.

Já o advogado de Sellinas, Bension Coslovsky, diz que entre as fitas apreendidas podem estar também algumas relacionadas ao caso Banespa. Sellinas foi uma das primeiras pessoas a prestar depoimento no inquérito do suborno de US$ 1 milhão no caso Banespa. Foi ele quem informou o superintendente Marco Antônio Veronezzi  sobre os boatos de que o delegado Francisco Pereira 

Munhoz — ex-presidente do inquérito que apurava acompra das Apólices do Tesouro Municipal, por preços excessivos, pela Corretora Banespa — havia recebido uma proposta de US$ l milhão para facilitar a situação do atual secretário de Indústria e Comércio, Otávio Ceccato, que à época do negócio era presidente do Banco do Estado de São Paulo (Banespa).

Logo depois disso, a Polícia Federal começou a Investigar o possível envolvimento de Sellinas com um esquema de corrupção de policiais para retirada da fiscalização da Galeria Pajé, em São Paulo.

Para o superintendente Marco Antônio Veronezzi, Sellinas especializou-se em gravar conversas telefônicas.

Ele afirma ainda que além da prisão em flagrante por contrabando, Sellinas deverá ser indiciado em inquérito por corrupção e exploração do prestígio de autoridades.

Já para o filho de Sellinas, Georges Sellinas Júnior, seu pai sempre ajudou a Policia Federal em investigações.

"Na Polícia Federal, meu pai era como se fosse de casa. Nossos serviços sempre foram solicitados", diz. Essa informação também é sustentada pelo advogado Bension Coslovsky, que se declara amigo de Sellinas.

Coslovsky — que ontem esteve no xadrez da Polícia Federal e saiu com uma procuração de próprio punho para fazer a defesa de Sellinas — também é uma peça importante no caso Banespa. Foi ele quem denunciou, na Procuradoria Geral da República em São Paulo, a compra irregular das Apólices do Tesouro Municipal pela Corretora Banespa.

A partir da representação encaminhada por Coslovsky ao procurador-chefe Manoel Paulino é que a Polícia Federal abriu o inquérito para apurar o caso.

Ele diz que em maio deste ano encaminhou ao superintendente da Polícia Federal, Marco Antônio Veronezzi, um requerimento onde pede certidões da íntegra do inquérito.

"Vou entrar com uma ação de responsabilidade civil. Acho que o fato de haver elementos que comprovam a responsabilidade de Ceccato na compra das Apólices do Tesouro Municipal já permite a ação civil", diz.

Coslovsky afirma que espera apenas que a Polícia Federal lhe entregue as cópias do inquérito, solicitadas quando o caso ainda era apurado pelo delegado Francisco Pereira Munhoz.

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