A Grande Arte de Sérgio Ricardo
O Início e o LP Dançante n. 1

Começou sua carreira como pianista de boate, substituindo a cadeira que pertencia a Tom Jobim. Na noite tocava os grandes standarts da música de rádio, na maioria hits norte-americanos, música das big-bands, orquestras populares e, naturalmente a música exótica trazida pelo cinema e LPs, nos anos 50. Ao mesmo tempo se aperfeiçoava no estudo acadêmico de piano. O resultado desse momento foi o LP Dançante n. 1.

LP inteiramente instrumental, onde o piano é o instrumento solista. Ainda distante da Bossa-Nova, o que se ouve é o típico piano bar dos anos 50, com muitas escalas, floreios e acordes arpejados. Canções norte-americanas as vezes acompanhadas de ritmos latinos, caracterizam bem o período: a forte influência dos ritmos calientes na música popular norte-americana, característica fundamental da música exótica. Orquestras como Xavier Cugat e Perez Prado se juntavam com Carmem Miranda nas paradas da música popular norte-americana. Sintoma dessa influência é a presença de um percussionista cubano no acompanhamento de Dançante n. 1. A influência da sonoridade “exótica” permanecerá em outras duas gravações de Sérgio Ricardo: o Amô Ruim, composta em pleno movimento da bossa-nova e incluída no LP A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo. Num ritmo meio oriental e arranjo muito semelhante a alguma trilha sonora de algum filme que se passa no oriente, essa canção cheira a anos 50. O uso proposital da dicção errada também indica um procedimento folclorista muito comum na época (a grafia escrita deveria reproduzir as falas populares de forma fiel, para manter a “autenticidade da cultura popular”. A música destoa do conjunto do LP, uma das características da obra de Sérgio Ricardo: manter seus trabalhos “abertos”, tanto para a manutenção da tradição, quanto para a experimentação. Outro procedimento que o autor manteve na Amô Ruim foi o canto num registro bem grave, numa clara imitação de Dorival Caymmi - que ele já havia feito em Vai Jangada, canção anterior a Bossa-Nova, de 1957. Isto é, mais um componente na mistura “experimental” (entre aspas, pois foi um experimento não intencional) dessa música. Sua outra canção exótica é Bichos da Noite, feita para uma peça de teatro e gravada no LP A Grande Música de Sérgio Ricardo, de 1969. Do arranjo sinuoso da orquestra de câmara, a percussão “africana” que evoca uma floresta perdida e mística; dos “sons” de animais a aliteração da última sílaba de cada estrofe, como a reproduzir no canto também sons de animais da floresta - tudo nessa música parece nascer de discos de Les Baxter e Martin Denny. Esse tipo de música “cafona”, com cheiro dos cafonas anos 50, será definitivamente banida da MPB pela Bossa-Nova, límpida, urbana e sofisticada.

Ao repertório rádio-standart de Dançante n.1 Sérgio Ricardo vai incluir músicas de sua autoria, já compostas num estilo jazzístico próximo da estética Bossa-Nova. Tanto é que duas ganharão letra e entrarão, como Bossa-Nova, no repertório do LP A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo. O tema 3-D é de clara influência Bop. Esse disco é um disco de passagem, de toda uma variedade de sons dos anos 50 ao jazz Bossa-Nova dos 60.
 

A Grande Arte de Sérgio Ricardo
 
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O Início e o LP Dançante n. 1
Sérgio Ricardo, o Piano e o Violão
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Zelão e a "Estética do Morro"
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Sérgio Ricardo e a Bossa Nova
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Canção de Protesto
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Sérgio Ricardo e o Tropicalimo 1
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Sérgio Ricardo e o Tropicalimo 2
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Afastamento da Mídia e o Novo Regionalismo
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Sérgio Ricardo e o Primeiro Disco Independente
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Novos Caminhos
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Retorno à Questão Agrária
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Militância e Circuito Universitário
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Sérgio Ricardo, Cineasta
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O Artista Plástico
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