Apesar de Sérgio Ricardo ter participado da Bossa-Nova, filosoficamente sua obra estava bastante distante das proposições do “movimento” (o uso desse termo pode não ser adequado. Sérgio Ricardo afirma que a Bossa-Nova é um jeito de tocar e cantar criado por João Gilberto, e não um movimento, pois não pontificava nenhum tipo de atitude ou filosofia. Pessoalmente creio que se possa usar o termo movimento, pois uma atitude estética sempre corresponde a uma atitude política). No ano seguinte Sérgio Ricardo produz um disco que o distancia mais da Bossa-Nova: Depois do Amor (1961). Talvez o nome queira dizer algo. Neste trabalho, Sérgio Ricardo interpreta exclusivamente no piano (e não no violão) músicas de outros autores, incluindo Bossa-Nova, sucessos da era do rádio, Vinícius de Morais e grava, pela primeira vez, Geraldo Vandré. Acontecia que Sérgio Ricardo parava, para se afastar da cena cultural, olhar de fora, sentir novos caminhos. Por outro lado, esse trabalho consolidou o prestígio de interprete, de “vozeirão” aveludado e anazalado, mais próximo aos grandes cantores do Rádio do que de João Gilberto. Tanto é que sua gravação de Lábios que Beijei e Poema dos Olhos da Amada foram as selecionadas para representar os compositores Lamartine Babo e Vinícius de Morais na coleção História da Música Popular Brasileira (ed. Abril, 1971). Suas qualidades como cantor seriam reaproveitadas apenas nos anos 90 pelo produtor Almir Shediak e seus Songbooks, onde Sérgio Ricardo é convidado a interpretar Jobim, Ary Barroso e Caymmi.
Dois anos depois, 1963, lança Um Senhor Talento pela mítica gravadora Elenco de Aloysio de Azevedo. A Elenco só lançava Bossa-Nova, e esse novo lp era uma reaprossimação com o “movimento”. Aqui ele já aparece tocando violão e contém hits da Bossa-Nova: Enquanto a Tristeza não Vem e Folha de Papel. Como era de se esperar, incluída canções de forte conteúdo social como A Fábrica e Barravento.
Na época grava pelo selo Forma, também especializado em Bossa-Nova, a trilha de seu filme Esse mundo é Meu, com arranjos e composições do Maestro Gaya, com pouca coisa de Bossa-Nova e uma seleção que já mostrava os caminhos da Canção de Protesto, como Pregão que apresenta uma linha rítmica calcada no toque do berimbau e verso construído a partir das quadrinhas dos pregões populares.
Em 1964 explode, como uma bomba, o golpe militar que depõe o presidente João Goulart. Sérgio Ricardo, que era um homem politizado, sente necessidade de radicalizar sua mensagem musical, ser um poeta direto, objetivo. Nesse mesmo ano produz com Glauber Rocha a música de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Estava dado os elementos políticos (a ditadura militar) e os elementos estéticos (o cinema novo e a nova música de Sérgio Ricardo) para mais um episódio da história da música popular: a Canção de Protesto.
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