A Grande Arte de Sérgio Ricardo
Militância e Circuito Universitário

 A politização da obra artística de Sérgio Ricardo acompanhava, como não poderia deixar de ser, sua militância pessoal na sociedade e no mundo artístico. O ponto de ruptura foi o golpe militar de 1964, não só para Sérgio Ricardo, mas para toda a sua geração. Não havia manifestação, show ou comício que não contava com a participação de Sérgio Ricardo.
Sérgio Cabral nota o profundo envolvimento que os astros da MPB tiveram na luta contra a ditadura militar:

“Sem querer desfazer de qualquer outro setor da cultura brasileira (principalmente do pessoal do teatro e do cinema, que se comportou com muita bravura), nenhuma atividade cultural resistiu tanto à ditadura quanto os compositores, músicos e cantoras. Estiveram presentes a todas as manifestações contra o regime, assinaram manifestos, foram presos, responderam aos PMs, foram expulsos do país etc. Durante um bom período não havia uma semana sem um show em que os artistas da MPB se apresentassem de graça para ajudar financeiramente as famílias de presos políticos ou para colaborar com organizações empenhadas no combate à ditadura. Fui encarregado de montar dezenas deles. Se Albino Pinheiro fizer um levantamento do número de espetáculos que promoveu naquela época, imagino que chegue as centenas. Quanto aos artistas, eram raros os que se recusavam a participar, mas havia aqueles que não falhavam nunca, como Sérgio Ricardo, MPB4 , Nara Leão e Paulinho da Viola”.

 Porém a militância de Sérgio Ricardo não se limitou apenas contra a ditadura militar. Foi articulador da luta pela regulamentação do Direito Autoral no Brasil, articulador da luta dos moradores da favela Vidigal (como já foi dito), participou da fundação do PT no RJ e foi militante; participou de todos os comissíos do partido, quando possível. Veio a SP para a campanha de Luíza Erundina e esteve discretamente presente na festa da posse, na Praça Benedito Calixto. Apoiou a campanha de Lula em 89 e em 93, quando a MPB em peso apoiava o candidato da direita, Fernando Henrique. Porém, talvez sua maior marca seja a de idealizador do Circuito Universitário, durante os anos 70.

 O Circuito Universitário foi a resposta alternativa e independente dos artistas a censura e ao fechamento de todos os meios de comunicação aos opositores do regime. Sérgio Ricardo buscou no público universitário um interlocutor ideal: desvinculado da dependência dos grandes meios, a divulgação era feita dentro das universidades e, a partir dela, difundida a um público maior. Os artistas que participaram do circuito Universitário viajavam o Brasil todo, cantando em pátios e bares de todas as universidades do país, para um público ativo e interessado. Esse Circuito acabou por cumprir vários papéis: foi um substituto dos Festivais. Através dele mostravam-se novos talentos, na mesma medida que se descobriam outros dentro das universidades, como por exemplo a Geração do Ceará, composta por estudantes, que se lançaram na carreira através do Circuito Universitário; e artistas alternativos que cativaram um público, como Walter Franco. Também se criou uma nova geração de músicos, influenciados pela proposta alternativa e inspirados pela força da mensagem, que inundaram o mercado com produções independentes no início dos anos 80. Essa geração de independentes é uma continuidade desse momento.

 Nos anos 90 Sérgio Ricardo reorganizou o Circuito Universitário, batizado primeiramente de VEM TE VER, e depois de ATITUDES MUSICAIS, porém sem a força daqueles tempos. Tanto a realidade social era outra, como o mundo artístico e o mundo universitário. Havia realmente um descompasso entre a proposta inicial e o resultado, o que levou o afastamento de Sérgio Ricardo do projeto.

A Grande Arte de Sérgio Ricardo
 
<- Introdução
<- O Início e o LP Dançante n. 1
<- Sérgio Ricardo, o Piano e o Violão
<- Zelão e a "Estética do Morro"
<- Sérgio Ricardo e a Bossa Nova
<- Canção de Protesto
<- Sérgio Ricardo e o Tropicalimo 1
<- Sérgio Ricardo e o Tropicalimo 2
<- Afastamento da Mídia e o Novo Regionalismo
<- Sérgio Ricardo e o Primeiro Disco Independente
<- Novos Caminhos
<- Retorno à Questão Agrária
Militância e Circuito Universitário
Sérgio Ricardo, Cineasta
->
O Artista Plástico
->
 


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